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(Antfer) #1

Vila Cruzeiro, chacina-genocídio


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Thiago Amparo


Vamos parar de fingir que a polícia fluminense
precisava que 25 pessoas fossem executadas -oito das
quais nem se sabe quem são- para apreender meia
dúzia de armas e drogas; se precisar, a polícia é, além
de morticida, incompetente. Sufocar o financiamento
das drogas e controlar armas é mais eficiente e até
salva vida de policiais. Vila Cruzeiro não é, no sentido
legal, operação policial (quem por ela responde,
legalmente?); no sentido tático, é um teatro macabro; no
sentido literal, é chacina.


As instituições policiais no RJ são, tecnicamente,
genocidas. Com a mesma frieza dos corpos já gélidos,
transportados pelos moradores ao hospital em lençóis
cheios de sangue, repito: imputo às forças policiais
fluminenses o crime de genocídio.


Trata-se da segunda mais letal chacina da história do
Rio. Fazer segurança pública por meio de chacinas
implica intenção de destruir grupo étnico-racial (por lei,
genocídio).


Chacinas são, ademais, um ataque sistemático contra a
população civil (crime contra a humanidade). Quem
comete o genocídio (as polícias), quem o ordena
(comandantes e governador), quem o instiga
(presidente da República) e quem se omite (Judiciário e
MP) são todos suspeitos de genocídio, não? Leia o
artigo 25 do Estatuto de Roma, lei no país. Deveriam
ser, ao menos.

Mesmo com os olhos mareados de lágrima e sangue,
não percamos de vista que esta chacina não é sobre
combate ao tráfico nem sobre segurança pública. É
sobre confronto institucional -polícias querem mostrar
ao STF quem manda- e sobre dar ao governador
Claudio Castro os esqueletos de que precisa para
construir seu palanque.

Enquanto abraça o caixão de sua filha Gabrielle, morta
dentro de casa por um tiro de longo alcance, dona
Divone murmura aos prantos, ao lado do neto: "Por que
fizeram isso com minha filha?". Naquele mesmo sítio, no
século 19, chegavam os pretos escravizados, já mortos
da viagem. Que os jornais anunciem que os pretos
novos continuam a desembarcar em solo carioca, dois
séculos depois.

COLUNISTAS

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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