Para analistas, modelo de venda da Eletrobras tem efeitos colaterais
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central
Clique aqui para abrir a imagem
Autor: Alexa Salomão
BRASÍLIA - Redefinir o papel do Estado, impedir o
repique na conta de luz e garantir investimentos para
modernizar o sistema e buscar a inclusão social. Na
avaliação de economistas e especialistas, esses
desafios continuarão a existir no setor de energia
mesmo após a privatização da Eletrobras.
O governo e o sindicato de bancos responsáveis pela
capitalização correm contra o tempo para concluir a
operação ainda no primeiro semestre, enquanto
diferentes correntes veem impasses relevantes de
médio elongo prazo para o país após a privatização. Em
muitos casos, problemas gerados por deficiências no
modelo de privatização escolhido e na condução da
operação.
O economista Arminio Fraga, sócio da Gávea
Investimentos e ex-presidente do Banco Central, tem
dúvidas sobre a eficiência do desenho adotado. Em vez
de promover a venda da companhia, o que considera
mais adequado, a opção foi diluir a participação da
União de 72% para 45%, preservando a presença e a
influência do Estado dentro do negócio.
Como os demais acionistas, o governo terá 10% das
ações com direito a voto, mas tende a ter dois
conselheiros. Hoje, o conselho de administração tem
dez integrantes. A União ainda terá veto em questões
societárias.
'Temo que o modelo não resolva os problemas
históricos de governança da empresa', diz Fraga, que é
colunista da Folha. 'Melhor seria vender as subsidiárias,
e o setor seguiria regulado, claro'.
Mas alguns acreditam que essa redução no poder do
Estado bastará para extirpar antigos vícios -como as
pressões por indicações políticas em suas subsidiárias
Eletrosul, Eletronorte, Chesf e Furnas.
Em contrapartida, a União, agora minoritária em uma
empresa de controle pulverizado, ganharia espaço para
atuar como uma interlocutora entre demandas dos
setores público e privado -embora sem autonomia para
bater o martelo.
'Na atual estrutura, a Eletrobras está engessada, e suas
subsidiárias viraram competidoras entre si [brigando]
por poder, verbas e projetos a ponto de já terem sido
chamadas de descontroladas da Eletrobras' diz o ex
ministro de Minas e Energia e deputado Fernando
Coelho Filho (União-PE) , defensor da privatização.
'Na condição de uma grande corporação da área de
energia, a Eletrobras poderá se tornar um importante
investidor no Brasil e em outro países, se equiparando a
empresa globais como AES, EDP e Engie' Mas há
heranças adicionais da tramitação do projeto de
privatização que preocupam estudiosos como Samuel
Pessôa, chefe de pesquisa do Julius Baer Family Office
e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da
FGV (Fundação Getulio Vargas).
Ele questiona a obrigatoriedade de construção de tér
micas a gás, medida que foi incluída na lei de