Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-26)

(Antfer) #1

Azeite também é coisa nossa


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Tendência e Debates
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Bia Pereira e Bob Vieira da Costa


O azeite Sabiá, produzido na serra da Mantiqueira e na
serra do Sudeste, no Rio Grande do Sul, foi eleito um
dos dez melhores do mundo por um respeitado
concurso internacional, o espanhol Evooleum. Como a
divulgação do concurso destaca, "a grande surpresa
deste ano foi o azeite brasileiro", o único premiado
produzido fora da Europa.


Foi exatamente da Espanha que Cristóvão Colombo
trouxe para a América as primeiras mudas de oliveiras.
Chile, Peru, Argentina, México e Brasil conhecem essa
cultura há séculos. O azeite dava luz aos fortes e às
igrejas, era lubrificante de armas e estava presente na
culinária. A história conta que dom João 6º, antes de
retornar para Portugal, em 1821, mandou cortar as
oliveiras para evitar que um produto importante de
exportação portuguesa tivesse concorrência local.


Convencionou-se, então, que o Brasil não era produtor
de azeite. Só que a oliveira cresce bem aqui, com
galhos e troncos frondosos, mas apresenta
produtividade menor que a mediterrânea. Para dar


frutos é preciso estresse térmico, 300 horas abaixo de
12ºC no ano, ou estresse hídrico, seca. Nas regiões de
altitude, como a da Mantiqueira, e de latitudes como no
Sul, as condições favorecem a cultura.

A olivicultura mostrou sua viabilidade econômica no
Brasil a partir de 2006. As empresas de pesquisas,
Epamig (MG) e Embrapa (RS), desenvolveram estudos
sobre variedades e manejo, proporcionando uma boa
adaptação ao solo e clima brasileiros. Isso nos fez
ganhar etapas, em termos de qualidade, se comparado
aos vastos pomares europeus. Agregue-se a isso que o
azeite é um suco de fruta e, quanto mais fresco, melhor.
Menos de 15 anos depois, o Brasil se destaca no
cenário mundial pela qualidade do azeite que produz.

Hoje ultrapassamos a casa de 120 marcas e de mais de
10 mil hectares plantados no Brasil. Números ainda
ínfimos quando o assunto é mercado interno. Temos um
consumo per capita/ano de 500 mililitros e importação
anual de 100 milhões de litros -segundo maior
importador do mundo, atrás dos Estados Unidos. A
produção brasileira, 250 mil litros em 2021, não chega a
1% desse mercado. O que prevalece nas gôndolas são
produtos importados de safras passadas, ainda com
valor nutricional e sensorial, mas muito aquém do
extravirgem brasileiro fresco.

O tamanho do mercado atrai também fraudadores. O
azeite é o segundo produto mais fraudado no planeta,
onde misturas ou refino de azeites velhos são vendidos
como legítimo português ou espanhol.

No Brasil, o Ministério da Agricultura já identificou e
retirou do mercado muitos azeites falsificados. Aqui
exige-se apenas a análise química, uma fotografia de
momento do produto. O ideal seria, como na Europa,
painéis de análise sensorial capazes de atestar a
qualidade de um azeite. Por sorte, estamos avançando
na criação do primeiro painel de análise sensorial e
aumentando a vigilância. Assim, vamos conseguir
desfrutar com um pouco mais de segurança desse
"ouro" líquido que é o bom azeite extravirgem brasileiro.
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