Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-26)

(Antfer) #1

Entrevista com o general do povo


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Cotidiano
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Sérgio Rodrigues


Num desses cruzamentos virtuais em que a literatura e
a realidade se espelham e se desafiam, calhou de eu
estar esta semana conversando com um dos maiores
militares progressistas da história do Brasil, o general
Patrício Macário.


Esta semana, bem entendido: aquela em que um grupo
de militares liderado pelo general Villas Bôas -aquele
que intimidou o STF em 2018 pelo Twitter- divulgou 'em
um ambiente eivado de patriotismo' (sic) seu 'projeto de
nação'.


Macário é um outro tipo de milico. Inimigo mortal de
todos os valores antipovo que o bolsonarismo
transformou em bandeiras, só chegou ao topo da
carreira na reforma.


Herói de guerra na juventude, tipo por todos como
destinado a um futuro brilhante, acabou prejudicado por
sua consciência histórica e sua retidão, sofrendo por
'testemunhar covardia, duplicidade, corrupção e
venalidade impunes, recompensadas mesmo, assistir às


dificuldades dos bons e às vitórias dos maus"

Macário se notabilizou como um crítico feroz da atuação
do Exército como 'instrumento repressor' do próprio
povo, empregado para 'garantir o poder de facções
políticas que não passavam de aparências diversas da
mesma coisa, em seus jogos de confronto e equilíbrio'.

E que coisa seria essa, sob a ilusão das aparências
diversas? O pequeno conjunto dos donos do poder,
uma elite que despreza o próprio país. Dirigindo-se a
eles, o velho general se exalta: 'Pilhadores, piratas,
saqueadores, encaram esta terra como uma coisa que
não tem nada a ver com vocês, não querem dar nada,
só querem tirar!'.

Pois é, Patrício Macário é um general peculiar. Para ele
a ética militar, com seus esteios de honra, bravura e
disciplina, só se justifica quando empregada em favor
dos 'brasileiros pobres, mantidos na miséria e na vida
servil, brasileiros tornados estrangeiros para os que, nas
cidades, bradavam pelo seu extermínio e os odiavam e
temiam como se odeia e teme o diabo'.

A princípio, ouvindo Macário falar, a gente tende a achar
que ele se refere aos indígenas assassinados por
garimpeiros ilegais sob a omissão incentivadora do
Estado. Ou aos moradores de favelas chacinados pela
Polícia Militar a mando do Estado. Ou a qualquer
dessas notícias rotineiras num país primitivo que
envergonha profundamente todos os que aqui
nasceram.

Sim, o general fala mesmo dessas desgraças, mas só
por que são atemporais aqueles cruzamentos em que a
literatura e a realidade se espelham e se desafiam. Na
verdade, o grande responsável por sua desilusão com o
Exército foi o massacre de Canudos.

Condecorado na Guerra do Paraguai, Patrício Macário
foi um republicano de primeira hora que, como tantos
outros, viu a República se transformar 'no veículo para(.

.. ) ganharem mais dinheiro, mais poder, mais se

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