Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-27)

(Antfer) #1

MUROS ELOQUENTES


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Segundo Caderno
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: NELSON MOTTA


Nada envelhece mais as pessoas do que a nostalgia.
Recordar é viver, o. k. , é a sua trajetória, sua bagagem,
o que você se tornou, mas ficar lamentando o fim dos
'bons tempos' é o fim. A vida é hoje, e amanhã, talvez.


Jogando conversa fora com o historiador pop Eduardo
Bueno, nosso amado Peninha, concordamos que certos
fatos precisam ser lembrados, não como nostalgia, mas
história.


Lembrei de uma pichação em São Paulo, 'Hendrix,
Mandrake, Mandrix', que viralizou pelos muros e
galerias e depois se soube que era um poema de Walter
Silveira. Mandrix era um remédio para dormir que
vendia em farmácia sem receita, mas, se tomado em
movimento, produzia efeito contrário: a pessoa ficava
ligada, mas num bem-estar absoluto, toda molinha,
como se estivesse meio bêbada, cheia de amor pra dar.
Dizem que era até afrodisíaco. Depois passou a tarja
preta e foi finalmente proibido, mas era encontrado na
Argentina e em Portugal com o nome de Mandrax.


'Até os marqueteiros dos fármacos eram melhores, com
esse nome sensacional', comentou, 'mas nós não
somos uns velhos saudosistas! Estamos sempre
abertos a novidades, mas vamos ser sinceros, Cara, o
mundo piorou..

E veio com um muro de Porto Alegre com a pichação
contra um governador impopular: 'Sinval Guazelli cheira
fio dental', e comentou, 'uma denúncia que na época
podia dar em impeachment, não se vê mais isso', riu.

Rebati com outro muro paulista, da casa do fotógrafo
americano David Zingg, que foi abandonado por seu
amor Marlice e, desesperado e com alguns uísques a
mais, pichou o apelo: 'Marlice come home' No dia
seguinte, sua empregada comentava apavorada na
vizinhança que 'Seu David está louco, escreveu que
dona Marlice come hômi'.

De São Paulo, ele lembrou, veio outro que marcou
época por sua síntese e sofisticação: 'Ying, Yang, Jung.
' E fechou com a que ficou famosa no início da epidemia
da Aids: 'Que saudade da gonorreia. ' Quando paramos
de rir, ele concluiu: 'Até os muros eram mais eloquentes.
'

Não é nostalgia, é história.

PERUCAS JURÍDICAS

É difícil entender por que um servidor público deve
ganhar um benefício por cada cinco anos trabalhados,
os tais quinquênios que juízes e o MP, os salários mais
altos dos três poderes, reivindicam. Afinal, eles não
estão apenas cumprindo seu dever, para o qual foram
contratados e são muito bem pagos? Seria um bônus-
fidelidade? Pela paciência com a chatice do trabalho?
Por aturar os colegas? Por ter só dois meses de férias
por ano? Julgar os outros já é difícil, mas a si mesmo é
quase impossível no Brasil de hoje.

Como seria bom uma lei como na tradição inglesa
obrigando juízes e promotores a usarem perucas
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