Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-27)

(Antfer) #1

FLÁVIA OLIVEIRA - O extermínio é projeto


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 27 de maio de 2022
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Autor: FLÁVIA OLIVEIRA


É assentada no extermínio dos jovens negros
moradores de favela - ligados ou não ao varejo de
drogas ilícitas - a política de segurança do governo
fluminense. Não bastassem as estatísticas sobre a
predominância de pessoas pretas e pardas entre os
moradores das comunidades populares, sequências de
fotos das vítimas de homicídios sepultam dúvidas.
Cláudio Castro foi içado ao Palácio Guanabara em
substituição a Wilson Witzel, o governador que
mandava 'atirar na cabecinha', sinal verde à execução
sumária. No poder, dobrou a aposta. Manteve a decisão
do companheiro de chapa de suprimir a Secretaria de
Segurança, substituída por duas pastas, de Polícia Civil
e Polícia Militar. Acumula recordes nefastos por
matanças sucessivas protagonizadas pelas Forças que
comanda.


Desde outubro de 2020, quando assumiu interinamente
o governo, após a Alerj aprovar a aberturado processo
de impeachment de Witzel, o Grupo de Estudos dos
Novos Ilegalismos (Geni-UFF) contou 74 operações
policiais com três ou mais homicídios; ao todo, foram


327 mortes. A partir de maio de 2021, com Castro
efetivado no cargo, houve 83 mortes em 16 chacinas,
incluídas aí as duas mais letais da História do estado:
Jacarezinho 2021, com 28 mortos, dentre os quais um
policial; Vila Cruzeiro, na última terça, 23 óbitos (a
polícia reduziu em três o total de vítimas informado
anteriormente). Uma mesma gestão acumular o primeiro
e segundo lugares em letalidade de intervenção policial
numa série histórica iniciada em 1989 não é acaso,
coincidência, fatalidade, efeito colateral. É projeto.

A gestão Castro, até aqui, não conseguiu apresentar um
plano consistente de redução da letalidade policial,
como determinou o Supremo Tribunal Federal (STF) em
fevereiro passado. Implantou no Jacarezinho e na
Muzema um arremedo de UPP batizado de Cidade
Integrada, com pouco diálogo com as comunidades.
Não cumpriu a promessa de instalar microcâmeras nas
fardas dos agentes de segurança. Em São Paulo, o uso
dos dispositivos, a partir de maio de 2020, reduziu
quase à metade as mortes decorrentes de operações
policiais. Em Santa Catarina, que usa câmeras
corporais desde julho de 2019, os óbitos em confrontos
com as polícias Civil e Militar caíram 19% no ano
passado.

O governador costuma festejar a redução de crimes
contra a vida e o patrimônio, que antes dele já vinham
em queda. De junho a setembro de 2020, primeiros
quatro meses de vigência da decisão do STF de
suspender operações policiais em favelas do Rio
durante a pandemia, as mortes por agentes da lei
despencaram 71%, segundo dados do Instituto de
Segurança Pública (ISP-RJ). Tudo isso sem interromper
o decréscimo dos indicadores de letalidade violenta e
roubos.

Tal como o presidente Jair Bolsonaro, aliado político e
companheiro de legenda, ataca as urnas eletrônicas, o
sistema eleitoral e ministros do STF para esconder a
coleção de fracassos do governo federal, o governador
fluminense parece fazer do extermínio nas favelas o
troféu para sufocar a falta de resultado noutras áreas. A
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