PEDRO DORIA - O lento suicídio da Meta
Banco Central do Brasil
Jornal O Globo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: PEDRO DORIA
Na última semana, Adam Mosseri, CEO do Instagram,
publicou um vídeo em sua conta anunciando mudanças
importantes. Uma delas deixou explícita: fotos e vídeos
ocuparão mais espaço na tela do celular. Chama isso
de experiência imersiva. A outra mudança ficou implícita
- o feed, a sequência de fotos e vídeos, será construído
de outra forma. Menos um produto de todos os que
seguimos e mais recomendações, surpresas. Material
produzido por gente que talvez nem sequer
suspeitemos quem seja. No fundo, a razão é uma só. À
Meta, holding que inclui Facebook e Instagram, está
tentando recuperar o terreno perdido para o TikTok.
O TikTok foi o app mais baixado do mundo em 2020 e
2021, tanto nos iPhones quanto nos Androids. No
mercado americano, também desde 2020, as pessoas
passaram mais tempo no TikTok do que no Face ou no
Insta. O YouTube ainda os bate - mas deverá ser
ultrapassado agora, em 2022.
O TikTok tem três diferenças em relação às duas redes
sociais da Meta. A primeira, óbvia: ele se baseia em
vídeos curtos. A segunda, os vídeos ocupam a tela
inteira -nada distrai quem vê, toda atenção está ali. Por
último, quem você segue conta pouco. O que você vê e
revê conta muito. O TikTok apresenta aos usuários
material produzido por gente de todo canto do mundo,
gente de quem nunca se ouviu falar, se o algoritmo
sugere que o vídeo tem o mesmo tipo de atrativo. Sim, o
algoritmo entende de nossa psicologia íntima, às vezes
parece, mais que o velho de barba sentado ao lado do
divã.
Pois é: o Instagram, aquela rede voltada para
fotografias, está virando um TikTok. Ou, ao menos, o
pessoal da Meta está trabalhando duro para que isso
ocorra.
O problema é que a virada não é trivial. Redes sociais,
pode não parecer, dão trabalho aos criadores de
conteúdo. E a Meta é um pesadelo para quem cria.
Mudam as regras do jogo toda hora. Durante anos,
cultivou-se um grupo que se especializou em fazer o
tipo de fotografia que atraía olhares no Insta. Era uma
rede voltada ao relaxamento, a um entretenimento mais
passivo.
Essas pessoas, algumas que conquistaram ao longo de
anos centenas de milhares, até milhões de seguidores,
de repente foram arrancadas do prumo. Primeiro
passaram a ter de produzir outro tipo de produto. Sai a
foto, entra o vídeo curto. Agora terão de lidar como fato
de que número de seguidores quer dizer menos, pois só
o material realmente viral chegará aos olhos de quem
está do outro lado da tela. Influenciadores que foram
grandes serão reduzidos a cinzas, novos aparecerão.
O impacto se dá também nos usuários, claro. Quem
tinha ali uma rede tranquila vai perdendo. O Insta se
transforma, lentamente, numa rede frenética.
Esse é o risco que a Meta corre. No mundo pré-internet,
nenhuma companhia com duas das quatro maiores
marcas no mercado se consideraria ameaçada. O
Facebook perdeu terreno, sim, e se tornou uma rede