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(Antfer) #1

Morte por asfixia em Sergipe exige investigação e punição a policiais


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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São sufocantes as imagens da abordagem truculenta,
desumana e inaceitável da Polícia Rodoviária Federal
(PRF) ao negro Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos,
em Umbaúba, Sergipe. Genivaldo, segundo a família
portador de transtornos mentais, foi detido por três
agentes quando passava de moto pela BR-101. Foi
imobilizado e posto no porta-malas da viatura, de onde
saía uma fumaça branca. De acordo com o relato do
sobrinho, Wallison de Jesus, os policiais jogaram um
gás dentro do veículo. No vídeo gravado por um
morador, é possível ouvir os gritos. Levado pelos
policiais ao hospital Dr. José Nailson Moura, ele chegou
morto. Era casado e tinha um filho.


O Instituto Médico Legal de Sergipe apontou asfixia e
insuficiência respiratória como causas da morte,
investigada pela Polícia Federal. Em nota, a PRF alegou
que os agentes usaram 'técnicas de imobilização e
instrumentos de menor potencial ofensivo' para conter
Genivaldo. Desde quando trancar alguém no porta-
malas, num ambiente irrespirável, representa 'menor
potencial ofensivo'? A corporação argumenta ainda que
Genivaldo resistiu à abordagem e foi agressivo. Não é o
que o vídeo dá a entender.


A morte brutal de um cidadão cujo erro foi passar pela
blitz onde estavam policiais despreparados e cruéis não
pode ser ignorada. Os responsáveis precisam ser
punidos com rigor. Imagens gravadas mostram a ação,
há testemunhas da abordagem. Tudo isso ajuda a
montar o quebra-cabeça do crime. Os agentes precisam
ser afastados enquanto durarem as investigações.

A ação chocante em Sergipe chama a atenção para a
truculência das forças de segurança do país. Um dia
antes, no Rio de Janeiro, uma operação da Polícia
Militar fluminense com a mesma PRF na favela da Vila
Cruzeiro deixou ao menos 23 mortos, entre eles uma
moradora atingida por uma bala perdida dentro de casa.
Não se pode achar isso normal.

A violência policial não é problema exclusivo do Brasil.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou
nesta semana uma reforma da polícia, pondo em prática
um compromisso de campanha. Golpes letais como o
estrangulamento do negro George Floyd por um policial
branco em 2020 não serão mais admitidos. As novas
normas valerão para os agentes federais, uma minoria,
mas ao menos são um sinal na direção desejável. No
Brasil, após o morticínio da Vila Cruzeiro, o presidente
Jair Bolsonaro parabenizou o Bope e a PRF.

É boa notícia que tenha havido redução do número de
civis mortos por policiais no Brasil em 2021, embora
estados como o Rio ainda mantenham Forças altamente
letais. Na análise de pesquisadores, isso se deveu
também a políticas públicas como a instalação de
câmeras em fardas, iniciativa que deveria ser adotada
por todas as corporações do país. E urgente que as
polícias mudem o treinamento de seus agentes, tenham
metas para reduzir letalidade e truculência e usem
ferramentas como as câmeras para aumentar a
segurança das operações. Caso contrário, não
demorarão a surgir novos Genivaldos.

COLUNISTAS
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