Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-27)

(Antfer) #1

Corações, mentes e a educação


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Tendência e Debates
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Viviane Senna


Abrir corações e mentes é termo de guerra, usado para
resolver conflitos não pela força, mas por apelos
emocionais ou intelectuais que motivam as pessoas.
Andreas Schleicher, diretor da OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico),
resgata a ideia para apresentar os primeiros resultados
do estudo "Beyond Academic Learning", o maior esforço
internacional de monitoramento sobre competências
socioemocionais já feito com estudantes -e que acaba
de ser traduzido e lançado no Brasil pelo Instituto Ayrton
Senna.


Ao explicar o momento atual da educação no mundo e a
urgência por soluções, Schleicher afirma que
curiosidade (abrir mentes), compaixão (abrir corações) e
coragem (mobilizar recursos para agir) são armas
contra as maiores ameaças do nosso tempo: ignorância,
ódio e medo.


O estudo da OCDE constata que é fundamental
estimular o desenvolvimento socioemocional, tal qual
fazemos com as ciências ou com a matemática, diante


do impacto positivo na aprendizagem e no bem-estar
social. Alguns achados chamam a atenção: curiosidade
e persistência são competências socioemocionais
fortemente relacionadas ao bom desempenho
acadêmico; a relação afetiva aluno-professor e a
sensação de pertencimento escolar estão relacionadas
à maior colaboração, empatia, confiança e motivação
para se sair bem na escola.

O Brasil não participou dessa primeira fase da pesquisa,
realizada em 2019 com dez países-membros da OCDE,
mas há previsão de inclusão do país já na próxima
rodada, ainda neste ano, por meio da rede estadual de
São Paulo. Embora ainda não tenha incluído a realidade
brasileira, o cenário é bastante semelhante às análises
feitas pelo Instituto Ayrton Senna. Em 2013, um
mapeamento feito com estudantes no Rio de Janeiro
evidenciou que autogestão se relacionava a melhores
desempenhos em matemática e abertura ao novo em
língua portuguesa.

Já um mapeamento mais recente, realizado em 2019
com estudantes paulistas, estimou que, se elevarmos a
abertura ao novo de um estudante que hoje se
considera pouco desenvolvido até um nível de maior
desenvolvimento, teríamos um ganho equivalente a 5,5
meses de aprendizado em língua portuguesa. Ganhos
semelhantes ocorreriam na relação entre autogestão e
matemática: desta vez, equivalente a 3,5 meses de
aprendizado.

Em uma perspectiva de educação que leva em
consideração o ser humano na sua plenitude, e diante
do comprovado impacto que as competências
socioemocionais exercem sobre o sucesso escolar e
outros resultados de vida, o relatório da OCDE é um
GPS que nos ajuda a encontrar caminhos para enfrentar
os declínios recentes e catastróficos de nossos
resultados educacionais. Afinal, o desenvolvimento
integral está entre as mais poderosas alavancas para
reverter de forma mais ágil esse quadro desalentador
em que 66% de nossas crianças de 6 e 7 anos são
consideradas analfabetas (segundo estudo do Todos
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