Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-27)

(Antfer) #1

Uma vibratória revolução


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Giovana Madalosso


Nem toda revolução precisa de armas. Ao menos não
dessas armas que conhecemos e que têm dado tantos
tiros pela culatra. Sugiro fazermos uma revolução de
outro calibre, como aquele que dei de aniversário para a
minha tia. Onze centímetros, emborrachado, a prova
d'água, com três velocidades e quatro modos
vibratórios.


Quando a encontrei, um mês depois, estava
apaixonada. E ensaiando largar o marido: "Ele não
ajuda a limpar a casa, a cuidar dos cachorros e, agora
percebi, nunca me ajudou a encontrar o prazer. Acabo
de descobrir sozinha que o tal ponto fica logo ali,
virando a esquina".


Minha tia não é a única. Segundo pesquisa da USP e do
Prosex, de 2017, 55,6% das brasileiras não atingem o
orgasmo nas relações. Um dado estarrecedor, num país
que se diz tão livre e erotizado, onde bundas de biquíni,
até há pouco, estampavam anúncios de cerveja e
refrigerante a motocicletas -erotizado para quem?


Não é exagero dizer que a pílula anticoncepcional
revolucionou o mundo, instaurando o amor livre e
dissociando-o da função reprodutiva. Desde então, a
maioria das mulheres pode transar à vontade, mas
romper com a tirania do prazer falocêntrico já é outra
história.

Por isso sugiro que todas peguem em armas e
conquistem novos e independentes territórios. O calibre
em si não tem a menor importância (só eles se
importam com isso). Vale um dildo, um rabbit, um
sugador de clitóris, um bullet ou mesmo um dedo cheio
de diligência.

Você acha que 55,6% dos homens se conformariam
com não gozar? Colocar-se em pé e pélvis de igualdade
com eles num assunto tão primordial pode mudar o
sistema de relações, tirar o corpo da mulher do lugar
objetificável (e portanto passivo de abuso) e criar uma
nova e bem-vinda estética para o erotismo e para a
representação afetiva. Sem falar no mais importante: o
próprio prazer.

Que orgiástica revolução.

COLUNISTAS

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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