Le Monde Diplomatique - Brasil - Edição 147 (2019-10)

(Antfer) #1

OUTUBRO 2019 Suplemento FAO (Nações Unidas) 19


U


ma coisa que aprendemos na luta contra
a fome é que não basta aumentar a pro-
dução de alimentos: sua qualidade é funda-
mental se quisermos assegurar um futuro
saudável para as pessoas. Não se trata so-
mente de poder comer, e sim de fazê-lo bem.
Nas últimas décadas temos alterado
drasticamente nossa dieta e hábitos alimen-
tares como resultado da globalização, da ur-
banização e do crescimento da renda. Temos
passado de pratos da estação elaborados
principalmente à base de plantas e ricos em
fibra a dietas hipercalóricas com um alto
conteúdo de amidos refinados, açúcar, gor-
duras, sal, alimentos processados, carnes e
outros produtos de origem animal.
As dietas pouco saudáveis, combinadas
com estilos de vida sedentários, superaram
o hábito de fumar como fator de risco de
morte e deficiência no mundo.
Além disso, a produção de alimentos in-
tensificada, combinada com as mudanças

climáticas, está causando uma perda rápida
de biodiversidade. Hoje, somente nove es-
pécies de plantas representam 66% da pro-
dução total de cultivos, apesar do fato de
que, ao longo da história, mais de 6 mil es-
pécies tenham sido cultivadas para a obten-
ção de alimentos. Uma variedade diversa de
cultivos é crucial para proporcionar dietas
saudáveis e salvaguardar o meio ambiente.
Todas essas mudanças estão relaciona-
das com o aumento da obesidade e outras
formas de má nutrição que afetam quase
uma em cada três pessoas. As projeções in-
dicam que em 2025 tal proporção será de
uma em cada duas. Trata-se de uma autên-
tica praga global em todos os sentidos que
já afeta cerca de 2 bilhões de pessoas, o
dobro do número de pessoas subalimenta-
das. Desse total, 120 milhões de meninos e
meninas (de 5 a 19 anos) são obesos e mais
de 40 milhões têm sobrepeso.
A FAO recomenda que os governos au-

mentem a disponibilidade e a acessibilidade
de alimentos diversos e nutritivos utilizados
para a elaboração de dietas saudáveis, e
que combatam a má nutrição a partir de
suas raízes (produção alimentar).
Por seu lado, o setor privado também de-
sempenha um papel fundamental e deve in-
fluir no ambiente alimentar mediante a intro-
dução de alimentos mais saudáveis e o
cumprimento das leis relacionadas à nutri-
ção, à produção e venda de alimentos, à re-
formulação dos produtos alimentícios, à ro-
tulagem nutricional e à comercialização e
publicidade de alimentos.
E, claro, as pessoas devem se conscien-
tizar e precisam estar informadas para mu-
dar suas opções e hábitos alimentares, além
de limitarem o consumo de alimentos ricos
em gordura, açúcar ou sal. Precisamos voltar
a descobrir a importância dos produtos fres-
cos da estação, dos conhecimentos tradicio-
nais e da biodiversidade local. ■

países, especialmente a Venezuela, onde a preva-
lência de subalimentação quase quadruplicou,
passando de 6,4% em 2012-2014 para 21,2% em
2016-2018.
Pelo contrário, as taxas de prevalência da su-
balimentação na América Central e no Caribe,
apesar de serem superiores às da América do Sul,
têm diminuído nos últimos anos. Isso se ajusta à
tendência de crescimento econômico observada
nessas sub-regiões, onde o PIB real aumentou a
um ritmo de aproximadamente 4% entre 2014 e
2018, com taxas moderadas de inflação sempre
abaixo de 3% no mesmo período.
A análise da distribuição da população subali-
mentada nas regiões do mundo mostra que a
maioria (mais de 500 milhões) vive na Ásia. O nú-
mero tem aumentado progressivamente na Áfri-
ca, onde atingiu quase 260 milhões de pessoas em
2018, das quais mais de 90% viviam na África
subsaariana. Levando em consideração essas ci-
fras e as tendências observadas no último decê-
nio, alcançar o objetivo da fome zero para 2030
parece um desafio cada vez mais preocupante. ■

População
Mundial
7 632,

Pessoas
Subalimentadas
821,

América Latina
e Caribe
42,

2,
Oceânia,
América Septrional
e Europa

6,
Outros

Ásia
513,

África
256,

DISTRIBUÇÃO DA SUBALIMENTAÇÃO NO MUNDO (em milhões) em 2018*


Ainda que a Ásia siga na liderança, mais de 30%
das pessoas subalimentadas no mundo vivem na África

NOTA: *Valores projetados
Fonte: FAO

A PRAGA DA OBESIDADE


As dietas pouco saudáveis,
combinadas com estilos de
vida sedentários, superaram
o tabagismo como o princi-
pal fator de deficiência e
morte no mundo.

Enquanto mais de 820 mi-
lhões de pessoas sofrem
com a fome em todo o mun-
do, existem mais pessoas
ainda que padecem do so-
brepeso e da obesidade.

MORTES CAUSADAS PELA DIETA AUMENTO DA OBESIDADE FOME E OBESIDADE


Mais de 670 milhões de
adultos e 120 milhões
de crianças (de 5 a 19 anos
de idade) são obesos e mais
de 40 milhões de crianças
têm sobrepeso.

@RIVA


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