impressões ao pilotar | campeão do SertõeS 2019
em vez de caçamba,
radiadores e um
tanque com 380 litros
de gasolina de aviação
No Sertões, Lucas e Kaique espan-
taram o azar de ter um pneu furado
numa das especiais e assumiram a
ponta na penúltima etapa, se valendo
dos problemas de Cristian Baumgart e
Beco Andreotti. Por ironia, a Ranger
X-Rally vencedora foi adquirida de
Marcos Baumgart, irmão de Cristian,
que em 2019 correu com uma versão
evoluída da Ranger X-Rally, com sus-
pensão traseira independente. Mas
voltemos ao meu passeio.
atoLeI o campeão Entrei na areia fofa
sabendo da diferença de condução
em relação ao asfalto. Na verdade,
achei que sabia. Negligenciei o ângulo
correto de transposição de um mor-
rete e... Atolei! Foi bom pra aprender
a respeitar a areia, que mais parece
um talco fino. A partir de então, liguei
meu modo de aprendizagem no nível
máximo e fui, de novo, entendendo
o carro aos pouco. Apesar do sistema
4x4, dos pneus off-road e da suspen-
são com duplo amortecimento, o de-
safio é justamente jogar do jeito certo a
força do motor Ford Coyote V8 para as
rodas: se acelera demais, elas cavam a
própria cova e o carro atola, se pisa de
menos, você fica para trás na prova.
“Em condição de aderência ultra-
baixa, como aqui, o melhor a fazer é
acelerar o tempo todo. E, para ganhar
velocidade, subir marcha sempre que
possível. Parar por completo é o pior
que se pode fazer”, disse meu copi-
loto. Acatei o ensinamento e aí, sim,
comecei a me divertir nas dunas.
O carro impressiona menos pela
velocidade – cujo pico nas dunas foi
de 100 km/h – e mais pela capacida-
de de andar forte sobre um terreno tão
instável. Também chama a atenção o
arsenal de soluções que carrega para
sobreviver à competição – conheça
os principais itens na página 40. Para
quem está acostumado com impecá-
veis carros novos, é difícil acreditar
que um modelo com partes de fibra
faltando, tomada de ar solta do teto e
para-brisa quebrado tenha tanta tec-
nologia a bordo e custe, quando novo,
cerca de R$ 950.000.
Chassi e bolha vêm da África do
Sul, motor e câmbio dos Estados
Unidos e amortecedores da Austrália.
Flávio Pacheco conta um dos segre-
dos da equipe campeã: “Para não per-
der tempo esperando por sua equipe
de apoio, piloto e navegador realizam
muitos reparos. Então, além de con-
fiabilidade e robustez, tudo precisa
ser o mais simples possível”.
Mesmo sendo um carro de compe-
tição, ele passa longe de ser um mons-
tro inguiável. Pelo contrário: você en-
tra nele e sai dirigindo. Simples assim
- como ele próprio, aliás.
44 quatro rodas outubro