Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Veja/Nacional - Brasil
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - IPCA

na sua pré-campanha eleitoral não é Lula nem o PT


Em sua campanha à reeleição, Jair Bolsonaro promete
empenho para derrotar uma suposta ameaça
comunista, impedir a volta do PT ao poder e defender o
“cidadão de bem” e a família tradicional brasileira.
Mesmo nos momentos mais críticos de popularidade,
essas bandeiras ajudaram o presidente a manter o
apoio de pelo menos 20% da população, mas elas
sozinhas não serão capazes de lhe assegurar a
conquista de um novo mandato. Hoje, a maior ameaça a
Bolsonaro na campanha eleitoral não é nenhum dos
adversários mencionados em seus discursos, muitos
deles imaginários, e sim a crise econômica e,
principalmente, a inflação. É a carestia dos alimentos,
da energia e dos combustíveis que impede o
mandatário de reduzir seu nível de rejeição e de
encurtar a distância em relação ao líder das pesquisas,
o ex-presidente Lula. Em resumo: é o aumento
generalizado dos preços — e não as alegadas e
fantasiosas fraudes nas urnas — que mina as chances
do ex-capitão. Esse diagnóstico é consenso entre
políticos, analistas e marqueteiros. Do PT ao PL,
passando pelos artífices da terceira via, não há dúvida:
a inflação e o poder de compra das famílias terão peso
decisivo no resultado final da votação.


Apesar de seu negacionismo multidisciplinar, Bolsonaro
reconhece há bastante tempo a gravidade da situação e
tenta atenuá-la. No fim do ano passado, ele substituiu o
Bolsa Família, que tinha um benefício médio de 189
reais, pelo Auxílio Brasil, cujo tíquete é de 400 reais.
Recentemente, o governo anunciou a antecipação do
pagamento do 13º salário de aposentados e
pensionistas do INSS e a autorização para saque de até
1000 reais de contas do FGTS com o objetivo de injetar
recursos na economia. Essas medidas contribuíram
para que o presidente recuperasse terreno e reduzisse
de forma significativa a diferença para Lula entre o fim
de 2021 e abril passado, mas em maio as pesquisas
revelaram um quadro de relativa estabilidade —
Bolsonaro parou de crescer ou o crescimento dele
perdeu tração, freado pelo aumento do custo de vida.


No mais recente levantamento Genial/Quaest, 50% dos
entrevistados elegeram a economia como o principal
problema do país. Ao detalharem a razão da escolha
desse tópico, 18% mencionaram a inflação, que só ficou
atrás de um genérico “crise econômica” (19%), que
engloba uma série de fatores, como a própria carestia.
Em janeiro, a inflação era citada por apenas 9%.

O levantamento também mostrou que para 59% dos
entrevistados piorou a capacidade de pagar contas nos
últimos três meses. Em janeiro, o porcentual era de
51%. “A avaliação sobre a economia real, com o
aumento significativo dos preços, é variável
determinante para o resultado desta eleição. Sem uma
melhora na percepção sobre a economia, é muito difícil
que a rejeição ao presidente diminua”, diz o cientista
político Felipe Nunes, diretor da Quaest. O horizonte
inflacionário é desafiador para Bolso-naro, cuja rejeição
é de 60%, enquanto a de Lula é de pouco mais de 40%.
Nos doze meses encerrados em abril, o índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 12,13%.
No mês passado, a variação foi de 1,26%, a maior para
abril desde 1996, e oito dos nove produtos e serviços
pesquisados registraram alta. Como presidente da
República, Bolsonaro tem suas despesas do dia a dia
bancadas por recursos públicos, mas, se ainda fosse
deputado do baixo clero e tivesse de quitar as próprias
faturas, ele certamente sentiria no bolso o fardo da
inflação. Mesmo os seus lanches mais prosaicos,
divulgados nas redes sociais como forma de alimentar a
imagem de um homem simples, ficaram salgados nos
últimos tempos.

O caso do combo de estimação do presidente é
ilustrativo. Em doze meses, o pão francês subiu 13,09%
e o café, 67,53%. O leite longa vida, que pode ser
misturado no café, aumentou 23,37%. Só o preço do
leite condensado, tão apreciado pelo mandatário como
recheio do pão francês, permaneceu praticamente
estável, com alta de 1,14% no período. A situação se
torna mais preocupante quando são analisados
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