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(Antfer) #1

O recado da arte para a política


Banco Central do Brasil

Jornal O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
sábado, 28 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: João Gabriel de Lima


O romance Marrom e Amarelo, do escritor brasileiro
Paulo Scott, teve excelente repercussão na Europa.
Lançado neste ano em inglês com o título Phenotypes,
foi indicado a prêmios internacionais e coberto de
elogios. 'Trata-se de um enredo tecido com arte sobre
raça, privilégio e culpa', escreveu a crítica Lucy
Popescu, do jornal britânico The Guardian.


A imprensa europeia observou que os escritores
brasileiros tratam cada vez mais de questões raciais - e,
com isso, se destacam. Foi possível constatar a
tendência na Fliaraxá, uma das feiras literárias mais
tradicionais do País. O evento, cujo tema deste ano foi
'Abolição, Independência e Literatura', contou com mais
de 60% de escritores negros.


Entre eles estava a filósofa Djamila Ribeiro, que acaba
de ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras.
O homenageado da Fliaraxá foi Itamar Vieira Júnior,
autor de outro livro que, a exemplo de Marrom e
Amarelo, vem fazendo carreira internacional brilhante.
Torto Arado narra a saga de uma família de


descendentes de escravos. Os dois romances, o de
Scott e o de Vieira Júnior, tocam na ferida aberta do
racismo brasileiro.

No mesmo dia em que se apresentou na Fliaraxá, Scott
discorreu sobre o assunto na Academia Brasileira de
Letras. 'O marco dessa nova leva da literatura brasileira
é Cidade de Deus, de Paulo Lins, e de duas décadas
para cá tivemos um avanço respeitável', diz ele, que é
entrevistado no mini podcast da semana.

O êxito de Ribeiro, Scott e Vieira Júnior mostra que o
meio cultural brasileiro despertou para o racismo, tema
tão incômodo quanto essencial, e praticamente ausente
do debate eleitoral deste ano. Nesta semana, mais
vidas negras se perderam no morticínio da Vila Cruzeiro
e na morte brutal, por asfixia, do sergipano Genivaldo
de Jesus Santos. Os dois casos foram considerados
pela imprensa internacional exemplos de como a
violência, no Brasil, afeta principalmente a população
negra.

No Roda Viva com Gilberto Gil, a diretora de televisão
Amora Mautner leu uma pergunta do pai, Jorge
Mautner: 'Até quando esperaremos pela segunda
abolição?' Gil respondeu: 'Cada vez mais produzimos
no Brasil as condições pela plenitude da abolição. Há o
movimento negro, e vemos o acolhimento cada vez
maior do Estado, ainda que fragmentado, aos projetos
emancipadores'.

O imenso artista brasileiro, que há muito tempo
promove o trânsito do tema racial entre a cultura e a
política, alerta para o fato de que muito já se fez, mas
ainda há um longo caminho a percorrer. A política
precisa, urgentemente, seguir os sinais captados pelas
antenas da literatura.

A imprensa europeia observa que os escritores
brasileiros tratam cada vez mais de questões raciais

ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO
EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE
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