Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1

Matar, matar, matar


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Cotidiano
sábado, 28 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Eís Francisco Carvalho Filho


Jair Bolsonaro é 'suspeito' de integrar uma quadrilha
para desvio de dinheiro público - as 'rachadinhas', uma
modalidade de peculato.


Além do enriquecimento ilícito, a família Bolsonaro anda
armada, ameaça jornalistas, perturba o processo
eleitoral e conspira contra a democracia.


Nem por isso forças de segurança podem atirar para
matar o governante 'suspeito', réu no Tribunal dos
Povos, ou os filhos 'suspeitos' do governante,
homiziados em Brasília.


Há pastores evangélicos 'suspeitos' de explorar a
miséria humana, lavagem de dinheiro, pedofilia,
charlatanismo, corrupção. Nem por isso as polícias
invadem igrejas repletas de fiéis e disparam suas armas
contra os religiosos 'suspeitos'.


Há oficiais do Exército 'suspeitos' de tortura, extorsão,
tráfico de drogas, desvio de armas. Nem por isso
destacamentos assaltam quartéis, atiram a esmo, e


abatem a tiros militares 'suspeitos'.

Há políticos e empresários 'suspeitos' de desmatar a
Amazônia ou de cometer atos gravíssimos contra a
administração pública. Nem por isso seus
colaboradores, familiares ou vizinhos são atingidos por
balas perdidas.

Quem examinar a relação de inquéritos instaurados no
Supremo Tribunal Federal contra Arthur Lira, por
exemplo, verá que o presidente da Câmara dos
Deputados, hoje como nome 'limpo', já foi 'suspeito' de
um impressionante rosário de delitos (corrupção,

evasão de divisas, lavagem de capital, organização
criminosa, compra de votos, desvio de valores, violência
doméstica). Nem por isso policiais justiceiros estavam
autorizados a acionar os seus fuzis no gabinete
parlamentar.

Este exercício retórico parece esdrúxulo (e de fato é),
mas ajuda a observar a situação absurda que a
sociedade brasileira impõe a habitantes de favelas
cariocas.

Há nos morros do Rio de Janeiro 'suspeitos' de tráfico
de drogas. Nem por isso operações policiais podem ser
arquitetadas como se inexistissem ali moradores
inofensivos.

A reação das 'autoridades' à calamitosa operação da
Vila Cruzeiro, com pelo menos 23 'suspeitos' mortos, é
infame.

O presidente da República, 'suspeito' de fazer apologia
da letalidade policial, parabeniza os 'guerreiros' do Bope
por 'neutralizar' pelo menos 20 marginais. Para o
macabro governador Cláudio Castro, que, depois de
quase dois anos no Palácio Guanabara, comemora 330
mortos em 74 chacinas, o complexo da Penha é 'hotel
de luxo para chefes de facções criminosas'.

Para dar um brilho político à tragédia, o cínico comando
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