Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1

PABLO ORTELLADO - Militares querem bolsonarismo até 2035


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
sábado, 28 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Três institutos com forte presença militar lançaram na
última semana o documento 'Projeto de nação, o Brasil
em 2035', um plano de militares alinhados ao governo
Bolsonaro para governar o Brasil por mais três
mandatos presidenciais. O projeto foi coordenado pelo
general Rocha Paiva, expresidente do grupo Terrorismo
Nunca Mais, e contou com a revisão do general Mendes
Cardoso, ministro-chefe do Gabinetede Segurança
Institucional no governo FH, do general Santa Rosa, ex-
chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos de Jair
Bolsonaro, do embaixador aposentado Marcos Henrique
Camillo Cortes e do professor Timothy Mulholland, ex-
reitor da UnB. A cerimônia de lançamento oficial contou
ainda com a presença do vice-presidente, o general
Hamilton Mourão.


O projeto é uma espécie de plano de ação para os
próximos mandatos presidenciais -esperando um
governo Bolsonaro 2, seguido de outros dois de um
sucessor, como fez Lula. O documento é um vislumbre
da visão de mundo dos militares bolsonaristas.


Um dos aspectos mais preocupantes do projeto é que
ele está tomado, do começo ao fim, pelo modo de


pensar conspiratório, 'antiglobalista' e 'antiesquerdista'.
'Globalismo' é definido no documento como o
movimento internacionalista da elite financeira mundial
para controlar nações e cidadãos por meio de
intervenções autoritárias disfarçadas como socialmente
corretas. O interesse dos 'globalistas' seria transferir a
soberania dos Estados a grandes potências,
organismos internacionais e ONGs, para que esses
atores possam decidir melhor sobre temas complexos
como meio ambiente e direitos humanos. Por isso o
projeto se propõe a conter o avanço do 'globalismo',
com um grande esforço de conscientização nacional. A
luta contra o 'globalismo' é ideológica.

Também é ideológica a luta contra a esquerda, vista
como a principal responsável pelas mazelas da
educação brasileira, coma pregação facciosa e
ideológica de professores radicais. Seria deles a culpa
pelo subdesenvolvimento e pela baixa produtividade
brasileira. Nada que não se resolva com civismo,
disciplina e bons valores morais. Afinal, ideológicos são
os outros.

A ideia paranoica de que uma elite financeira 'globalista'
quer controlar o Brasil por meio da ONU e das ONGs
permite resolver a contradição entre duas filiações
ideológicas contraditórias do documento, o nacionalismo
e o liberalismo. Como em nenhum momento o projeto é
propriamente nacionalista - defende a cultura, os
empregos ou a indústria nacionais - e, ademais, em
termos econômicos, enfatiza sempre uma abordagem
bastante liberal, é com o combate ao 'globalismo' que
afirma seu nacionalismo, ainda que numa chave
conspiratória.

O liberalismo aparece na defesa da flexibilização da
entrada de capital estrangeiro no país para gerar
emprego e renda, mas é aberta uma exceção para
garantir o capital nacional na agricultura, dada sua 'alta
relevância estratégica'. Ficamos sem entender por que
não seriam também estratégicos os setores de energia,
infraestrutura ou comunicações -e fica a desconfiança
de que o protecionismo aoagroé apenas para retribuir
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