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(Antfer) #1

GUILHERME BOULOS - Camping não é moradia


Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: GUILHERME BOULOS


Na última semana, Isaías de Faria, sem-teto de 66 anos
de idade, morreu de frio, após passar a noite em frente
a um centro de convivência da prefeitura de São Paulo,


à espera do café. Lamentavelmente, não foi o primeiro a
morrer nessas circunstâncias. O drama da população
em situação de rua, fatal numa frente fria, é a face mais
escancarada da miséria urbana brasileira. Somente na
capital paulista, há mais de 30 mil pessoas vivendo nas
ruas, o maior número registrado na história. E estamos
falando da cidade mais rica da América Latina.

O agravamento do problema de moradia no Brasil é
resultado de uma tempestade perfeita. De um lado, o
desmonte das políticas de habitação popular pelo
governo Bolsonaro, que acabou com o Minha Casa
Minha Vida. De outro, o aprofundamento da crise
econômica, levando ao desemprego e à queda da
renda. Muitas famílias que viviam de aluguel, ao perder
seu rendimento, vão direto para a rua. Aliás, isso explica
a mudança do perfil da população em situação de rua
nas cidades brasileiras: antes eram majoritariamente
homens sozinhos, agora são famílias inteiras.

Não fosse a militância de figuras como o padre Júlio
Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, ou das
cozinhas solidárias do MTST, a situação seria ainda
pior. Mas a militância, por mais exemplar que seja, não
faz milagres. A solução para o drama desses milhares
de brasileiros atirados à própria sorte passa
inevitavelmente por políticas públicas. São três níveis de
iniciativas que precisariam ser articuladas entre si e
lideradas pelas prefeituras.

Primeiro, é necessária uma atuação emergencial nos
momentos de maior risco, que passe pela utilização de
equipamentos públicos, tais como ginásios para abrigo
da população em situação de rua. Uma iniciativa
humanitária, que não tem como esperar políticas
públicas de médio prazo. O PSOL, a Rede e o MTST
entraram com uma ação judicial no Supremo Tribunal
Federal, cobrando do Poder Público a atuação imediata
de abrigo. As prefeituras das grandes cidades
brasileiras têm equipamentos e recursos necessários
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