Clipping Revistas - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Isto É Dinheiro/Nacional - Artigo
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

presidente Ernesto Geisel, que presidiu a estatal antes
de presidir a República, sabia muito bem disso. Para
ele, e para os demais integrantes dos governos militares
antes e depois, direcionar recursos da petrolífera para
empresas atrasadas e ineficientes seria o único jeito
possível de fazer com que o parque industrial brasileiro
conseguisse investimentos para os quais não havia
dinheiro privado.


Há vários outros exemplos. A Petrobras também usou
seu prestígio e suas conexões internacionais para
desemperrar relações comprometidas pela política. Em
1987, o governo de José Sarney promoveu uma
atabalhoada moratória da dívida externa, na esteira do
fracasso do Plano Cruzado. Isso fechou as portas do
mercado internacional. As captações só voltariam em
1991 por meio da venda de bônus da Petrobras. Para
driblar as restrições dos credores, a estatal usou as
receitas de seus ativos internacionais como garantia.
Isso permitiu a reabertura do mercado e o governo
lançou um título da dívida no ano seguinte.


Duas décadas e meia depois, a gestão de Dilma
Rousseff baixou artificialmente os preços dos
combustíveis para controlar a inflação. Essa conta
também ficou com a estatal. Poucos anos depois, no
impeachment de Rousseff, a Petrobras ostentava a
duvidosa honra de ser a petrolífera mais endividada do
mundo. Como resultado, não pagou dividendos durante
anos. Além de lesar seus acionistas minoritários, essa
consequência afetou todos os brasileiros, privando o
Tesouro de uma fonte de receitas relevante.


Essas distorções foram parcialmente sanadas durante a
gestão de Michel Temer, em cuja presidência foram
aprovadas tanto a Lei das Estatais, em junho de 2016,
quanto o novo estatuto da Petrobras, que proíbe que a
empresa realize investimentos ou execute operações
que gerem prejuízo — por exemplo, vender combustível
subsidiado para caminhoneiros que apoiam o presidente
da República.


De volta a 2022. O tombo nas ações com a indicação de
troca de presidente foi de 3,2%, e as cotações não se
recuperaram totalmente nos pregões seguintes. Apesar
da Lei das Estatais e da blindagem estatutária, o
governo provavelmente não vai desistir de tentar intervir
na petrolífera. Prejuízo certo para os acionistas. A
história se repetirá. Como farsa ou, mais provável, como
tragédia.

Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
Caio Mario Paes de Andrade, Banco Central - Perfil 1 -
Ministério da Economia, Banco Central - Perfil 1 - Paulo
Guedes, Cenário Político-Econômico - Colunistas
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