Clipping Revistas - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Seu País
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Bolsa de Valores

nativa, o chupim, tem o hábito de colocar seus ovos em
ninhos alheios e entregar a espécies diferentes a
criação de seus rebentos. É a lei da selva, a imposição
dos mais fortes, espertos e aptos. No mundo da política,
prevalece, no entanto, uma regra diferente: esperteza,
quando é demais, engole o dono. E os tucanos de terno
e gravata são as maiores vítimas da soberba. Nascido
da costela do PMDB, retratado pela mídia como um
partido de “autênticos” e intelectuais, no comando do
Brasil por oito anos, à frente de São Paulo, o mais rico
estado da federação, por quase três décadas, o PSDB
atravessa o que parece ser o estágio terminal de sua
história. A legenda de Mário Covas e Franco Montoro,
que um dia pretendeu transportar para os trópicos os
ideiais da social-democracia europeia, mergulhou no
abismo profundo após quatro derrotas seguidas nas
disputas presidenciais para o PT. O amargor feriu egos
e levou as lideranças a abrir a caixa de Pandora do
golpismo, avalizar a anti- política e permitir que o ninho
fosse tomado por chupins. Ironicamente, o intencional
flerte com a ruptura das regras básicas da
institucionalidade não beneficiou a agremiação, como
previam os iluminados caciques. Ao contrário, o tuca-
nato corre o risco de ser varrido do mapa, engolido
pelos males que libertou.


A renúncia de João Doria à candidatura presidencial foi
mais um prego no caixão. “Serenamente, entendo que
não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta
realidade com a cabeça erguida”, discursou, com voz
embargada, o ex-governador paulista na segunda-feira
23, para surpresa de poucos. Como se fosse um
modelo da Pietá, Doria cruzou os braços sobre o peito e
cerrou os olhos antes de deixar a ribalta. A cena em
uma manhã fria paulistana marca o fim de um projeto
político meteórico e ambicioso iniciado há seis anos,
quando foi eleito em primeiro turno prefeito da capital.
Autêntico chupim, o organizador £ 2 de eventos traiu os
aliados na primeira Bolsa de Valores. Ou como se
contrabandeasse ovos para o ninho. Para alcançar o
objetivo, uniu-se de forma oportunista a Jair Bolsonaro
em 2018, no chamado “BolsoDoria”. Venceu, mas, no
fim, não levou. Desprezado pela aristocracia partidária,
rejeitado pelos eleitores e odiado pelo ex-capitão, Doria


foi, como o diz o ditado citado no início desta
reportagem, engolido pela própria esperteza.

No dia da “renúncia”, mantida sob sigilo desde a tomada
de decisão três dias antes, Doria estava rodeado de
alguns poucos correligionários, entre eles o presidente
nacional da legenda, Bruno Araújo, dirigentes estaduais
e municipais, e da esposa, Bia Doria. Uma ausência foi
sentida: a de seu ex-vice-governador e candidato à
reeleição Rodrigo Garcia, na ocasião em viagem pelo
interior do estado acompanhado de Baleia Rossi,
presidente nacional do MDB, de Simone Tebet, a (nem
tão) nova aposta da chamada terceira via. Vale lembrar
que o MDB deve indicar o vice na chapa estadual.

Um dos pivôs da desistência de Doria, Garcia agora se
torna o foco de atenção política e financeira do PSDB,
cuja eleição em São Paulo, estado gerido há 28 anos
pelo tucanato, é considerada crucial para a sobreviência
do partido. Segundo um tucano ouvido por CartaCapital,
desde as turbulentas prévias internas, o objetivo era
garantir a saída de Doria do comando do governo do
estado, levando consigo a rejeição e abrindo caminho
ao sucessor. Depois de “escolhido” no processo interno
que custou 12 milhões de reais do fundo partidário e
diante do fiasco nas pesquisas, os caciques iniciaram a
segunda fase da operação: forçar Doria a desistir do
sonho presidencial. Um dirigente resume a estratégia:
“Se você está com uma bomba dentro de um prédio, a
polícia vai te oferecer qualquer coisa para você sair dali.
Depois que você sair do prédio, a polícia faz o que tem
de fazer”.

Com Doria e sua rejeição em torno de 71%, verdadeira
bomba, longe do Palácio dos Bandeirantes, Garcia está
livre para seguir com sua estratégia eleitoral de capturar
o espólio da gestão, mais bem avaliado do que o antigo
governador, e “assumir” a candidatura à reeleição, sem
o peso da má imagem do antecessor. Em uma das
inserções em tevês e rádios em São Paulo, Garcia, cujo
slogan é “O Novo Governador”, apresenta-se como um
gestor público há 27 anos, responsável por programas
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