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(Antfer) #1

PRIMEIRA PESSOA - "NÃO ABAIXO A CABEÇA"


Banco Central do Brasil

Revista Veja/Nacional - Primeira Pessoa
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Benny Briolly, em depoimento a Adriana Cruz


A vereadora trans Benny Briolly, 30, conta a dor que
sentiu ao ser xingada no plenário por deputado
bolsonarista


No meio de uma sessão da Assembleia dos Deputados
no Rio, fui surpreendida por um discurso movido a
intolerância de meu colega Rodrigo Amorim (PTB), o
mesmo deputado da base bolsonarista que quebrou a
placa de rua em homenagem à vereadora Marielle
Franco. Irritado com o teor do debate, que justamente
girava em torno de políticas de inclusão para a
população que se identifica sob a sigla LGBTQIA+, ele
pegou o microfone e começou a me xingar de
“aberração da natureza”, “belzebu”, dizendo que eu era
homem, já que havia nascido com testículos. Na mesma
hora, comecei a receber mensagens de solidariedade e
espanto e vídeos com aquele trecho da fala que eu
gostaria de apagar da minha cabeça. Senti revolta, uma
profunda indignação, e refleti muito sobre como ajudar a
fazer essa questão avançar no Brasil. O país é hoje
dono de um pódio que ninguém quer: o que mais mata
travestis e transexuais no mundo.

O início da minha militância foi em casa. Com uns 7, 8
anos, percebi que não queria ser igual a meu pai, mas a
minha mãe, que teve a sensibilidade para perceber
minhas angústias com gênero. Ela morreu de câncer
quando eu tinha 15 anos e fiquei com meu pai, um
pastor evangélico para quem foi muito duro aceitar a
situação. Vivíamos em atrito. Mas segui em frente e fiz a
transição, tornando-me uma mulher trans, um choque
para toda a família. O cenário, porém, mudou. Não que
meu pai olhe para gente como eu com 100% de
naturalidade, só que hoje ele entende que é preciso
respeitar os direitos dessas pessoas, como os de
qualquer um. E assim, com o tempo, redescobrimos a
paz em casa, um alicerce essencial em minha briga
diária para não ser vista como uma “aberração”.

Sou a primeira parlamentar trans eleita no estado do Rio
de Janeiro, em 2020, na cidade de Niterói. Em 2013, já
estava envolvida com o movimento estudantil e com a
luta em prol dos LGBTQIA+. Aí o PSOL me convidou
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