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Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Ninguém pode alegar desconhecimento de quem é
Bolsonaro. Então fica a questão: o que aconteceu com
um partido que tem no nome o termo “social-
democracia”, que tem como dirigentes históricos líderes
que foram perseguidos pela ditadura e lutaram pela
redemocratização? Como pode parcela significativa
desse partido apoiar um político de extrema- -direita e
fascistoide? O mesmo vale para setores do MDB, um
partido que tem sua história ligada à luta contra o
regime militar. Chega a ser espantoso como setores
dessas duas legendas renegam e traem o próprio
passado partidário.


Uma das explicações desse fenômeno talvez se
encontre no fato de que os partidos, tal como existiram
no século XX, são hoje uma realidade em
decomposição e em extinção. Nas sociedades pós-
industriais - tecnológicas e de serviços - eles tendem a
não representar mais setores sociais específicos. No
Brasil esse quadro se agrava porque os partidos foram
e são quase todos inorgânicos. Mas, diante deste novo
quadro, as tradicionais identidades pelo nome das siglas
e outras simbologias, parecem perder relevância. Veja-
se o que aconteceu na França. Sem entrar num mérito
valorativo, o fato é que, aqui no Brasil, agora, as
Federações Partidárias aceleram esse processo.
Apropria fusão do PSL e do DEM no União Brasil
também entra nesse caso.


Ocorre que os partidos, além de não se vincularem mais
à representação de setores sociais específicos, também
deixam de lado a ideia de um projeto de país, de um
programa nacional. As organizações e composições
tornaram-se fluidas, impermanentes. Elas se estruturam
com a finalidade de capturar parcelas de eleitores para
ocupar um espaço de poder nos Parlamentos, nos
cargos públicos e no sistema de privilégios políticos,
fundos partidários e nacos orçamentários.


Nesses termos, verifica-se, ao menos em alguns
segmentos políticos, um crescente desinteresse pela
disputa da Presidência da República, por exemplo. Se a


preocupação central não é mais com o projeto nacional,
mas com cargos, privilégios e verbas, então parece
fazer mais sentido ter bancadas fortes. Assim, partidos
do Centrão que se agregam em torno de Bolsonaro
pensam menos nele e mais no tamanho de suas
bancadas. Partes do MDB, do PSDB, do PSD, e assim
por diante, pensam nos mesmos termos. Esse processo
leva ao insulamento autárquico dos partidos, à morte da
democracia de partidos, ao abandono das massas e à
captura do Estado como um terreno de mera disputa de
poder, privilégios, verbas e fundos pelos grupos que se
organizam em formas partidárias voláteis para realizar
essas capturas. Os grandes perdedores desse processo
são as massas, a sociedade como um todo e,
principalmente, os mais pobres.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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