Clipping Revistas - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Economia
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Bank for International
Settlements

rapidamente com a livre circulação das mercadorias”.
Isso não aconteceu. Ao contrário, há um retrocesso,
imposição de barreiras, boicote à Rússia e retenção de
vendas ao exterior por países exportadores.


A tempestade perfeita inclui uma crise no sistema
alimentar que deveria levar a uma revisão do paradigma
de consumo. “A maior parte dos países, exceto os
desérticos, tem autossuficiência em alimentos, mas com
o canto da sereia da globalização, muitos deixaram de
produzir porque importar saía mais barato, era mais
conveniente”, destaca o economista.


“O que quero sublinhar", prossegue Belik, “é, primeiro,
essa concentração enorme que houve no comércio
internacional e nos produtos que estão sendo
transacionados. Isso tem a ver com uma
homogeneização da dieta mundial em torno de quatro
produtos, o trigo, o milho, o arroz e a soja, que
representam 60% dos grãos. Parte deles,
principalmente a soja e o milho, não é usada para
consumo humano final, mas como insumo.” Essa
moldagem do sistema alimentar, emenda, está se
mostrando frágil diante da situação de crise, em que os
países tentam salvaguardar os seus interesses
individuais, particulares. Desde o início da guerra na
Ucrânia, 23 países impuseram restrições às
exportações de alimentos que cobrem 10% das calorias
comercializadas globalmente. No Brasil, o governo
anunciou nova redução de 10%, a segunda desde
novembro, no imposto de importação sobre feijão,
carne, arroz e alguns alimentos industrializados, entre
outros produtos.


Os países, inclusive o Brasil, deixaram de ter estoques
reguladores. O governo considera a medida
desnecessária e acredita que, diante de um problema
com o abastecimento interno, sempre pode comprar no
mercado internacional, uma tese demolida com a
pandemia e a guerra. A crise múltipla atinge o País em
situação de grande risco, devido ao desmonte completo
das estruturas de proteção social para as pessoas


vulneráveis. Todos os programas foram extintos ou
esvaziados, desidratados, no sentido de inexistência de
recursos. “Se o Brasil conseguiu sair do Mapa da Fome
nos anos 2010, foi por conta dessa rede de proteção
social que acolheu e identificou vulnerabilidades e deu
um tratamento diferenciado para cada assunto em
particular. Isso você não substitui por um Auxílio Brasil.
Não é com um programa bala de prata, em que você faz
uma transferência de renda malfeita e eleitoreira, que
vai resolver o problema das pessoas.”

Há uma oportunidade agora, pondera Belik, de se
repensar esse modelo de abastecimento alimentar, para
uma volta à | ideia de soberania alimentar, de os países
i poderem produzir os alimentos que têm a ; ver com a
sua cultura e as suas condições! climáticas. Essa
revisão é mais que necessária, sugerem os dados da
pesquisa intitulada “Um retrato do sistema alimentar!
brasileiro e suas contradições”, realizada ; pelo
economista em parceria com o Instituto de Manejo e
Certificação Florestal! e Agrícola e o apoio do Instituto
Ibirapitanga e do Instituto Clima e Sociedade, o ;
primeiro estudo abrangente da cadeia de j alimentos no
País.

Segundo a pesquisa, as famílias da i faixa de renda
mais alta, pesquisada pelo í IBGE, acima de 25 salários
mínimos, gastam com alimentação 627% a mais do que
| as famílias pobres. Cerca de 29% dessas j famílias
ricas concentram 46% das despesas em alimentação.
São 18 milhões j de famílias, ou 57 milhões de pessoas,
i que consomem 46% de todos os alimentos. “Diante
desse quadro, é fácil imaginar em quem uma indústria
de alimentos, um supermercado, vai m irar nas suas i
estratégias de marketing e nas suas decisões. Temos aí
um alimento, um produto, que é padronizado para
rendas altíssimas, e que está muito além das
possibilidades de consumo dos demais 71% das
famílias”, diz o trabalho.

Em torno de 35% do gasto em alimentação está
concentrado em 10% dos grupos de produtos, uma
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