Clipping Revistas - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Nosso Mundo
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 3 - Reforma Tributária

Para se ter uma ideia da brutalidade das disputas
políticas no país, vale lembrar que, segundo a Unidade
de Investigação e Acusação da Jurisdição Especial para
a Paz, 904 líderes sociais e defensores dos direitos
humanos foram assassinados entre dezembro de 2016
e o fim de 2020.


O nervosismo escancarado pela direita local pode ser
explicado diante de pesados interesses geopolíticos. A
Colômbia é a principal aliada dos Estados Unidos na
América do Sul. Em 1999, os presidentes Bill Clinton e
Andrés Pastrana firmaram o Plano Colômbia, programa
de investimentos em segurança que envolvia a
instalação e modernização de sete bases militares
comandadas por Washington. Entre 2002 e 2010, o país
foi governado por Álvaro Uribe, de extrema-direita, que
se valeu da aliança para incrementar a repressão
interna à guerrilha e a movimentos sociais e a se
colocar regionalmente como contraponto ao governo de
Hugo Chávez, da Venezuela. No penúltimo ano de sua
gestão, Uribe firmou novo pacto militar, no âmbito da
Guerra ao Terror desatada pela Casa Branca. E, em
maio de 2018, o presidente Juán Manuel dos Santos,
ex-aliado de Uribe, assinou o ingresso do país como
“parceiro global” da Organização do Tratadodo Atlântico
Norte. Duque, atual presidente, é fiel seguidor de Uribe
em seu viés repressivo. Assim, uma troca de comando
na Casa de Narino, sede do governo nacional, pode
apresentar ruídos numa aliança estratégica para
Washington.


O desempenho de Petro, economista de 62 anos, ex-
guerrilheiro, ex-prefeito de Bogotá e atual senador, e de
sua vice, a advogada e ativista afrodescendente Francia
Márquez, 39 anos, é inédito. Nenhum candidato com
pálidas tinturas à esquerda jamais chegou tão bem
colocado a uma disputa nacional. Segundo as últimas
sondagens, a coalizão Pacto Histórico alcança 41,5%
na preferência popular. Bem abaixo, com 25,3%, está
Federico Fico Gutierrez, ex-prefeito de Medellín, da
coalizão de direita Equipe por Colômbia. E com 17,9%


vem Rodolfo Hernández, empresário e ex-prefeito de
Bucaramanga.

Toda a tática conservadora consiste em levar o
enfrentamento ao segundo turno, previsto para 19 de
junho, na esperança de que um somatório de forças
possa alterar o favoritismo da esquerda.

Uribe não esconde sua preferência por Gutierrez. O
desgaste do afilhado Duque torna, porém, qualquer
aproximação negativa aos olhos do eleitorado. Tal
situação levou o candidato oficial, Oscar Zuluaga, a
desistir de sua postulação ainda em março. O uribismo,
vertente política dominante nas duas últimas décadas,
chega às eleições sem um herdeiro assumido, depois
de uma contração do PIB da ordem de 6,8% o em 2020,
e de cerca de 140 mil mortes durante a pandemia de
Covid-19.

O descontentamento popular manifestou-se em ao
menos duas oportunidades o ao longo do último ano. A
primeira deu- “ -se nos maciços protestos populares que
£ tomaram a capital e várias cidades do interior entre
abril e junho de 2021.O gatilho foi o envio ao Congresso
de um projeto de reforma tributária por parte do go- I
verno. Se aprovadas, as medidas resultariam em
aumentos de impostos, em especial sobre gêneros de
primeira necessidade, que atingiriam uma sociedade
castigada por 14%de desemprego e uma informalidade
que atinge metade da população economicamente ativa.
A pesada repressão das polícias e do exército resultou
em ; 52 mortos e mais de 3 mil feridos.

A segunda demonstração de descontentamento
aconteceu nas eleições parlamentares, no início de
março. A aliança Pacto Histórico praticamente empatou
com liberais e conservadores na distribuição de
cadeiras na Câmara e no Senado, num resultado sem
paralelo na história colombiana.
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