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(Antfer) #1

SIDARTA RIBEIRO - Enfrentar o medo


Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: SIDARTA RIBEIRO


O medo é necessário à sobrevivência, pois permite
reconhecer ameaças a tempo de evitar o pior. Diante do
perigo iminente, é preciso decidir entre fugir ou lutar.


Tais comportamentos antagônicos são gerados pela
ativação de diversas regiões cerebrais, cuja interação
neuroquímica aumenta o estado de alerta e prepara o
corpo para os movimentos vigorosos que caracterizam
tanto a luta quanto a fuga. Situações extremas exigem
respostas extremas - e o nosso organismo é bem
equipado para isso.
Entretanto, quando o medo se transforma em terror,
torna-se difícil lutar ou fugir. Nesse momento, pode
surgir a paralisia, seja por congelamento, seja por
imobilidade tônica. Na relação entre predador e presa, o
congelamento se dá quando a presa ainda não foi
detectada pelo predador e tem por função diminuir as
chances de ser descoberta. A imobilidade tônica
acontece quando a presa foi detectada, e tem por
função minimizar os ataques subsequentes.
Enquanto o congelamento envolve rigidez corporal em
postura ereta e aumento da frequência cardíaca, a
imobilidade tônica apresenta redução da frequência
cardíaca, insensibilidade a estímulos e postura
semelhante à morte. Qualquer semelhança com o
estado da democracia brasileira não é coincidência. O
golpe militar em curso busca congelar as pessoas e
imobilizar as instituições, criando a paralisia necessária
à consumação do ato. Com exceção do Supremo
Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, a
maior parte do judiciário está em imobilidade tônica.
O Congresso Nacional, apesar da brava minoria que
enfrenta os predadores, tem uma maioria congelada de
medo deles, ou com eles conivente. Os abundantes
sinais golpistas emitidos pelo presidente da República e
sua alcateia têm a função de assustar, mas também de
anestesiar: reiterar o inimaginável até que seja
imaginável e, afinal, inevitável.
Como lidar com o medo que paralisa? Se não falamos
do golpe, permitimos que ele prospere na surdina. Se
falamos, contribuímos para que o terror se instale.
Para lidar com medos excessivos, nossos ancestrais
tiveram a genial ideia de transformar adversários em
aliados. Inúmeras vezes foi selada a paz entre pessoas
de grupos diferentes, até que pactos de convivência
começaram a ser firmados também entre indivíduos de
espécies distintas.
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