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Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Há cerca de 25 mil anos, nossos avós paleolíticos
começaram a trazer os lobos para perto de suas
famílias. Notórios por atacar as presas mais vulneráveis,
foram transformados, por cuidadosa seleção, em seres
protetores das presas mais vulneráveis. A domesticação
do lobo gerou uma incrível variedade de raças caninas,
cada uma delas talhada para satisfazer necessidades
humanas bem específicas.
Ao contrário do lobo, o cão não morde a mão do dono,
pois vive para servi-lo. Como canta o cachorro no álbum
Saltimbancos, de Chico Buarque, Sérgio Bardotti e Luiz
Enrique Bacalov: Corre, cão de raça/corre, cão de
caça/corre, cão chacal/ sim, senhor/cão polícia/sempre
estou/às ordens, sim, senhor. Cabe perguntar, portanto,
se os militares e policiais brasileiros são os fiéis cães de
guarda da sociedade civil, a serviço da democracia e da
República, ou se são lobos sanguinários, servidores da
própria fome de poder.
Para o bem ou para o mal, essa pergunta será
respondida nas eleições de 2022. Precisaremos de
muita coragem e bom humor para escapar desses lobos
em pele de cachorro. Recorro novamente ao sábio
Chico Buarque, que não é bobo e pôs Chapeuzinho
Amarelo no lugar do povo.
“O engraçado é que, assim que encontrou o lobo, a
Chapeuzinho Amarelo foi perdendo aquele medo: o
medo do medo do medo do medo que tinha do lobo. Foi
ficando só com um pouco de medo daquele lobo.
Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo”,
escreve em Chapeuzinho Amarelo (com ilustrações de
Ziraldo). “O lobo ficou chateado de ver aquela menina
olhando pra cara dele, só que sem o medo dele. Ficou
mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo,
porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo.”
Se queremos escapar do congelamento e da
imobilidade tônica, devemos nos lembrar de que
coragem não é ausência de medo, e sim disposição
para enfrentá-lo. Como disse Lula no lançamento de
sua pré- -campanha: “Chega de ameaças, chega de
suspeições absurdas, chega de chantagens verbais,
chega de tensões artificiais (...) Queremos voltar para
que ninguém nunca mais ouse desafiar a democracia. E
para que o fascismo seja devolvido ao esgoto da
história, de onde jamais deveria ter saído”.
Porque um fascista, tirado o medo, é um arremedo de


fascista na lista da justiça.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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