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Banco Central do Brasil

Revista Exame/Nacional - Casual
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

meditações, tem relação com o início da carreira de
Ribeiro.


Foi na Biblioteca Carolina Maria de Jesus, na Casa de
Cultura da Mulher Negra, em Santos, que a filósofa teve
o primeiro contato com um novo universo de autoras,
como a própria Carolina de Jesus. Anos depois, o
resultado está aí: um mais do que necessário local de
acolhimento à população negra, em especial as
mulheres. Espaço Feminismos Plurais | Alameda
Tupiniquins, 343, Moema, São Paulo | De segunda a
sexta, das 9 às 17 horas; sábados, das 10 às 15 horas


SANTÉ - Brasil, terra do vinho. Será? A dupla poda foi
inventada na Serra da Mantiqueira e permitiu que vinhos
nacionais atingissem padrão de qualidade internacional
O que vem à cabeça quando pensamos no sul de
Minas, mais especificamente no município de Três
Corações? Bem, foi na terra do café no início dos anos
2000 que aconteceram as primeiras experiências com a
dupla poda, técnica que viria a revolucionar a viticultura
brasileira e constituir o que hoje conhecemos como
“terroir de inverno”.


A ideia surgiu quando o agrônomo Murillo Regina
estudava viticultura na cidade francesa de Bordeaux.
Conforme seus professores detalhavam as condições
perfeitas para o cultivo das Vitis viniferas, ele se
lembrava da fazenda de seu tio em Três Corações —
porém, lá as condições ideais (solo seco com dias
quentes e noites frias) ocorriam durante o inverno, e não
no verão. Ou seja: clima certo na hora errada.


Para tornar esse sonho possível, ele deveria mudar o
ciclo da videira. Aí entra um dos pilares do conceito de
terroir: o trabalho humano. Murillo põe em prática sua
técnica de dupla poda, em que a videira é podada no
verão, antes de gerar frutos, “enganando” a planta para
forçar uma dormência. Assim, no começo do outono, a
planta inicia novamente seu ciclo, forma os cachos e
amadurece em condições climáticas perfeitas. As uvas


são colhidas no inverno, e então ela é podada
novamente.

A uva syrah foi a que mais se destacou nessas
primeiras experiências. Em 2003, o que viria a ser a
vinícola Estrada Real produziu o primeiro vinho de dupla
poda do mundo, abrindo a possibilidade para outros
vinhos finos de qualidade em lugares inimagináveis.
Depois da syrah, que ainda reina soberana, vieram a
sauvignon blanc, a chardonnay, a cabernet sauvignon, a
cabernet franc e a viognier, com ótimos resultados.

A Serra da Mantiqueira, reconhecida por seus destinos
turísticos e imensas fazendas com cafezais, ganhou
força na colheita de inverno. Vinícolas hoje já
estabelecidas, como Maria Maria e Guaspari — a que
mais teve notoriedade até o momento —, juntamente
com a já citada Primeira Estrada, logo se
especializaram na técnica. Assim como a vinícola
Terras Altas, em Ribeirão Preto, a vinícola Vinhedo
Girassol, no cerrado goiano, a vinícola UVVA, na
Chapada Diamantina, além de outras ao norte, no Vale
do Rio São Francisco (que já tinha o título de região
mais próxima da linha do Equador a produzir maior
quantidade de vinhos no mundo). Essas vinícolas
conseguiram melhorar a qualidade de seus vinhos por
meio da dupla poda.

O primeiro passo já foi dado. Temos o Brasil inteiro
ainda para desbravar, e o mundo pode aprender com a
nossa experiência, que mostrou ser possível burlar as
regras naturais da viticultura e produzir vinhos de alta
gama em basicamente qualquer lugar em que haja solo
adequado e amplitude térmica. O Brasil, país do café,
da cachaça, do samba, do futebol, entre tantas
riquezas, tem tudo para se tornar o país do vinho.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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