'Viver no mundo da fantasia pode ser classificado como uma nova doença
Banco Central do Brasil
Jornal O Globo/Nacional - Saúde
Sunday, May 29, 2022
Banco Central - Perfil 1 - Déficit
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Autor: BERNARDO YONESHIGUE
Passar boa parte do dia no mundo da fantasia criado
pela própria mente, negligenciando responsabilidades e
com impactos nos relacionamentos da vida real. O
conceito, quando exacerbado, é normalmente
interpretado como uma característica do Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), sendo
atribuído em alguns casos ao termo 'imaginação
hiperativa'. Porém, cada vez mais estudos buscam
identificar peculiaridades do maladaptive daydreaming
(MD) - algo como devaneio excessivo mal adaptado, em
português - que o enquadraria como um próprio, e novo,
diagnóstico de transtorno mental. Mas o que é esse
devaneio excessivo?
Um grupo de pesquisadores israelenses, em estudo
publicado recentemente na revista científica Journal of
Clinical Psychology, define o devaneio excessivo como
uma 'atividade de fantasia compulsiva caracterizada por
uma imaginação imersiva e uma mudança na atenção
em direção a um rico mundo interior, negligenciando
atividades sociais, ocupacionais e acadêmicas'.
- Os estudos científicos sobre esse conceito são
recentes, mas é um fenômeno que conhecemos há
muitos anos. A questão é que a pessoa saudável entra
e sai desse estado de divagação de uma forma
relativamente rápida, com qualquer estímulo do
ambiente externo. O que não é ocaso de quemtêma
condição - explica o psiquiatra Mario Rodrigues Louzã,
coordenador do Programa de Déficit de Atenção e
Hiperatividade no Adulto do Instituto de Psiquiatria da
USP.
Para os cientistas do Laboratório de Consciência e
Psicopatologia da Universidade Ben Gurion e da
Universidade de Haifa, em Israel, existe uma noção hoje
de que a maioria dos adultos com a condição atendem a
critérios e são diagnosticados com TDAH. No entanto,
eles defendem que o déficit de atenção para essas
pessoas seria algo secundário ao problema principal -o
vício nos devaneios imersivos e fantasiosos.
'Alguns indivíduos que se tornam viciados em seus
devaneios experimentam grande dificuldade em se
concentrar e focar sua atenção em tarefas acadêmicas
e vocacionais, mas descobrem que um diagnóstico de
TDAH e o plano de tratamento subsequente não os
ajudam necessariamente. Classificar formalmente o MD
(maladaptive daydreaming) como um transtorno mental
permitiria que os psicólogos atendessem melhor muitos
de seus pacientes', afirma a pesquisadora da
Universidade Ben-Gurion Nirit Soffer-Dudek, uma das
autoras do estudo, em comunicado.
Ela defende que o ideal seria a inclusão do conceito na
próxima edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, documento da Associação
Americana de Psiquiatria, como um transtorno
independente. Para isso, a cientista conduz uma série
de pesquisas em busca de descobrir, e eventualmente
reforçar, as peculiaridades do devaneio excessivo mal
adaptado.
Seu último estudo envolveu 83 adultos diagnosticados
com TDAH. Os resultados mostraram que apenas 20,