ALTA INFIDELIDADE
Banco Central do Brasil
Jornal O Globo/Nacional - Economia
Sunday, May 29, 2022
Cenário Político-Econômico - Destaques Jornais
Nacionais
Click here to open the image
Autor: RAPHAELA RIBAS, GLAUCE CAVALCANTI E
JÉSSICA MARQUES*
A inflação nas alturas e o aperto crescente no bolso
abalam a fidelidade do brasileiro às marcas nos
supermercados. Consumidores trocam o casamento
com produtos favoritos por uma espécie de
'relacionamento aberto', no qual experimentam outras
opções de uma mesma categoria de acordo com o
preço, em segmentos como alimentos, higiene e
limpeza. E esse match acontece em um novo canal de
vendas: o atacarejo.
Segundo consultorias especializadas, esses
hipermercados, cada vez mais procurados pela classe
média ávida por descontos nas compras em quantidade,
já somam 40% das vendas de alimentos. Neles a
variedade é maior, o que dá mais chance ao flerte com
produtos mais baratos.
- Há uma variável muito impactante nesse movimento
atual de troca por marcas que não estava nas crises
anteriores, que é o atacarejo. Permitiu que as pessoas
fizessem o trade down (troca por itens de baixo custo)
com muitas opções para escolher - diz Rodrigo Catani,
head de Potencializar Vendas da AGR Consultores.
O atacarejo, continua ele, permite ao consumidor
transitar entre as marcas pelas quais tem preferência e
outras que não conhecia ou não via no mercado de
bairro.
- E uma troca que ocorre principalmente na classe
média. E um grupo mais aberto a testar outros produtos
de menor preço. Elege uma cesta de itens dos quais
não vai abrir mão e compensa economizando no
restante - acrescenta Catani. - Nas classes baixas, que
já compram de forma seletiva e restrita, essas trocas
são mais difíceis porque a pessoa não pode errar.
TROCA DE FRALDAS No Grupo Mateus, rede presente
em todo o Nordeste em que o atacarejo é 50% do
negócio, o faturamento saltou de R$ 4, 1 bilhões em
2019, antes da pandemia, para R$ 8, 7 bilhões em
- Aliada à estratégia dos supermercados, o grupo
verticalizou quatro marcas próprias voltadas para frios e
padaria. Nesta última, sua etiqueta supera 50% das
vendas.
O atacarejo é um formato definido pelo consumidor final
há alguns anos. Ganhou tração na pandemia, e os
efeitos inflacionários continuam direcionando esse
movimento - diz Marcelo Korber, gestor da área de
Relações com Investidores da rede.
Fernando Gambôa, sócio líder de Consumo e Varejo da
consultoria KPMG no Brasil, explica que, além do
atacarejo, desponta neste cenário de salários que não
conseguem repor a inflação a volta da venda a granel e
das marcas próprias das varejistas.
- Os supermercados costumam trabalhar com 40 a 50
marcas de arroz e biscoito, por exemplo, e agora têm
- Ampliaram a quantidade de marcas disponíveis e
mais baratas para caber no bolso.