Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-29)

(Antfer) #1

Confusão para nada


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
Sunday, May 29, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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A agitação golpista promovida pelo presidente da
República produz efeito deletério sobre sua imagem
pública. Não foi a primeira vez que o Datafolha detectou
coincidência entre um surto de arruaça, de um lado, e a
impopularidade elevada de Jair Bolsonaro (PL), do
outro.


O auge da avaliação ruim ou péssima da administração
federal (53%) foi registrado nas pesquisas de setembro
e dezembro de 2021, posteriores à epifania subversiva
do Dia da Independência.


À relativa trégua do mandatário se seguiu um princípio
de recuperação -apurado na pesquisa de março,
quando a reprovação baixou para 46%-, abortado agora
(48%), após nova investida contra as instituições da
democracia.


As imprecações obstinadas de Bolsonaro contra a
votação eletrônica mostraram-se igualmente inúteis
para desmobilizar a vasta maioria de brasileiros que
afirma confiar nas urnas. Ela caiu de 82% para 73% de
março para cá, basicamente pela dúvida incutida na
própria base bolsonarista, que ainda assim mais confia


(58%) que não confia (40%) no sistema.

Pregar para convertidos em tema de insubordinação
aos cânones democráticos afugenta do apoio ao
presidente largos contingentes do eleitorado nacional. A
rejeição maciça a Bolsonaro por seu turno se reflete em
sua larga desvantagem na corrida para a reeleição, o
que torna ainda mais postiças e débeis a gritaria sobre
fraudes e as insinuações sobre viradas de mesa.

É a economia, no fim das contas, que vai minando a
viabilidade da administração Jair Bolsonaro. Se a
algazarra golpista se destina a despistar a atenção do
público desse terreno minado para o situacionismo,
também falha no objetivo.

A aceleração inflacionária deflagrada pela guerra no
leste da Europa, novo choque externo a abater-se sobre
o Brasil, escancarou -como havia feito a pandemia de
coronavírus- a profunda incompetência da equipe
ministerial e do presidente da República em especial.

Os cabeceios populistas contra a Petrobras e
governadores de estado são sintomas dessa deficiência
insanável de capacidade técnica e política para
organizar uma saída crível que mitigue os efeitos da
carestia sobre a metade mais pobre da população,
justamente a que rejeita Bolsonaro em altíssimo grau.

Mas para isso seria necessário um presidente capaz e
que trabalhasse de sol a sol -este não desperdiça
oportunidade de passear de motocicleta e gozar folgas
douradas no litoral à custa do contribuinte.

O golpismo e a agitação fácil também tecem uma manta
conveniente para quem não se estabelece pelos
próprios méritos. O que as pesquisas de opinião estão
mostrando objetivamente é que nada disso funciona. É
confusão para nada.

COLUNISTAS
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