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Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
Sunday, May 29, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
seguranças no estacionamento do Carrefour, aconteceu
dentro de um ambiente privado. Isso faz diferença no
engajamento das empresas??Acontecer no ambiente
privado também não é algo novo. O que mudou foi
justamente essa compreensão. A questão é que nossa
sociedade como um todo, veículos de comunicação,
parte importante dos intelectuais, está começando a
compreender a questão racial.
No caso do João Alberto foi muito simbólico porque foi
na véspera do Dia da Consciência Negra. As imagens
são fortes, bizarras, desumanas. Independentemente de
você compreender o racismo, provoca indignação. Isso
contribui.
Acho que muitas empresas compreenderam o potencial
de perdas, de vida, de imagem, de recursos e se
mexeram a partir disso. Logo depois, teve
manifestações de empresas fornecedoras do Carrefour
condenando a ação, exigindo medidas. Tem que
compreender que, no fim das contas, empresas,
governos, sociedade, indivíduos estão todos no mesmo
barco. Veja o resultado: cliente morto, funcionários
demitidos, presos, processados, dano à empresa.
Poderia ter sido evitado.
Como está a Iniciativa Empresarial pela Igualdade
Racial?? É um movimento que reúne empresas pela
promoção da diversidade étnico-racial no mercado de
trabalho. A gente trabalha com grandes companhias.
Elas dão sinais, dão o sentido do que as grandes
empresas estão fazendo, ou seja, dão referências. E
elas têm uma grande cadeia de valor, ou seja, se é
importante para a empresa, precisa ser importante para
a sua cadeia de valor.
O esforço com organizações que estão comprometidas
com a diversidade é compreender esse cenário. Para
trazer ações propositivas, a gente precisa sentar à mesa
com todo mundo, poder público, grandes e médias
empresas, escola, para construir caminhos e conseguir
superar o racismo, porque ele foi construído. Ele não é
natural. Então, pode ser desconstruído.
E o debate sobre a revisão da Lei de Cotas neste ano?
Como as empresas estão se posicionando e qual é o
papel delas nesse tema??Conversamos bastante com
as empresas no ano passado sobre essa compreensão.
Elas podem e devem se posicionar, cobrar, acionar as
representações, principalmente porque muitas delas se
baseiam justamente nisso para o recrutamento de
candidatos negros. É parte da base legal. O sistema
gira em torno disso.
Essa é uma discussão que foi muito emblemática no
meio empresarial, mas a gente conseguiu um certo
avanço, até com velocidade nesse sentido. Mas no
geral a empresa precisa, primeiro, compreender o que
é, que não é só para negros, é também para indígenas
e de escolas públicas.
Não tem jeito. Nesse tema, você tem que se posicionar.
Só o discurso não vai resolver. Agora é posicionamento.
Raio-X
Advogado e professor da Universidade Zumbi dos
Palmares, Raphael Vicente é diretor-geral da Iniciativa
Empresarial pela Igualdade Racial, movimento que
reúne empresas brasileiras e multinacionais para
combater o racismo no ambiente corporativo. É também
sócio da Vicente Consultoria, mestre e doutorando pela
PUC-SP
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