PC Guia - Edição 260 (2017-09)

(Antfer) #1

HIGH -TECH GIR L


MARIZA FIGUEIREDO High-Tech Girl (hightechgirlblog.com) / [email protected]

18 / PCGUIA

O QUE A LEVOU A ESCOLHER UMA CARREIRA NA
ÁREA DAS TECNOLOGIAS?
Sempre gostei de comunicação, mas logo
apercebi-me de que preferia a parte técnica
à da escrita. Ia escolher um curso na área
audiovisual ou de cinema, mas estávamos no
boom da Internet em Portugal e quis aprender
a fazer conteúdos para este novo canal de
comunicação. Deparei-me com um curso
muito à frente do seu tempo (a licenciatura
em Novas Tecnologias da Comunicação na
Universidade de Aveiro) e apaixonei-me
completamente por esta área. O “bichinho”
do cinema ainda cá continua e adoro fazer
motion graphics, a combinar skills destas
duas áreas.


COMO FOI A EXPERIÊNCIA NO EVENTO HACK FOR
GOOD DA GULBENKIAN?
Esta não foi a minha estreia em hackathons.
No ano passado participei no Pixels Camp
(Lisboa) e na hackathon da Farfetch (Porto).
A experiência no Hack for Good foi fantástica
e desafiante. Nenhum dos elementos da
equipa se conhecia. O que nos unia era o
facto de estarmos ligadas à comunidade
Portuguese Women in Tech (PWIT). Esta
plataforma lançou-nos o desafio e todas
quisemos participar nesta iniciativa que
pretende colocar a tecnologia ao serviço da
resolução de problemas sociais. Este ano o
tema foi a crise dos refugiados. Éramos de
áreas completamente diferentes, fora do
espectro engenheiro/developer, porém com
competências complementares: além de
mim, havia duas médicas, Daniela Seixas e
Ana Rita Pereira, a advogada Carina Branco e
Teresa Fernandes, engenheira de formação e
atual mentora e advisor de empresas na área
tecnológica. A nossa multidisciplinaridade
revelou-se muito útil no desenvolvimento do
modelo conceptual da aplicação. O que mais
nos comoveu foi o facto de termos conseguido
reunir 82 médicos voluntários credenciados
em apenas trinta horas. Conseguimo-lo


“A CURA TORNOU-SE UM INSTRUMENTO


DE EMPODERAMENTO E DE INCLUSÃO


DAS MULHERES MIGRANTES”


sta é agora a palavra de ordem.
Pelo menos para mim. Tenho um carro menor,
vou para uma casa menor e vou abrir mão
de qualquer coisa como 60 a 70 por cento
das minhas coisas. A ideia assustou-me
me de início, mas ocasionalmente lança
uma faísca de entusiasmo enquanto

me encontro mergulhada entre pilhas de
papéis, roupas e objectos que estão prestes
a perder lugar na minha vida. O desapego
não é fácil, mas garantem-me (e eu acredito)
que traz o prazer de uma nova forma leve
e simples de ser. A próxima etapa será
mais difícil: reduzir o peso da tecnologia

na minha vida. Não, não, não. Continuo
a amar gadgets. A meta é reduzir
o espaço que ocupam,
ou melhor, o tempo que me roubam
com a desculpa de tornar tudo fácil,
aproximar distâncias e mantermo-nos
informados. Será que vou conseguir?

Rosário Costa Cross-media designer & front-end developer na Palo Alto Software


EXPLIQUE-NOS O PROJECTO.
Desenvolvemos o conceito de uma app para
facilitar o acesso de migrantes à saúde,
através da assistência de médicos voluntários
credenciados. Uma app dedicada em
particular a mulheres e de forma anónima.
Percebemos que as mulheres são elementos
nucleares na família e particularmente
vulneráveis. Têm acesso à saúde em Portugal,
mas por vezes sofrem constrangimentos:
obstáculos linguísticos e/ou de natureza
sociocultural. Denominada CURA, a
app tornou-se para nós um instrumento
de empoderamento e de inclusão das
mulheres migrantes! Em termos de
tecnologia, para ultrapassar a dificuldade
de comunicação que muitos migrantes
enfrentam e permitir a sua extensão a uma
rede de médicos internacional, a app tem
uma componente de tradução cognitiva
simultânea (tecnologia Microsoft). Uma
mensagem escrita por um utilizador na sua
própria língua é automaticamente traduzida
para o idioma do recetor.

E AGORA QUE ETAPAS TÊM PELA FRENTE?
Apesar de termos recebido um prémio
monetário, este serve apenas de ponto de
partida. Temos de encontrar apoios
financeiros e institucionais para continuar
a desenvolver a app CURA. Queremos que
esteja disponível o mais depressa possível
com as suas funcionalidades de chat
em tempo real com tradução integrada,
possibilidade de upload de imagens
ou documentos e de retenção do
aconselhamento médico no equipamento
do utente. Paralelamente, queremos alargar
a rede de voluntários, médicos e outros
profissionais de saúde. Uma app sem
fins lucrativos é mais difícil de lançar no
mercado, mas estamos muito determinadas e
confiantes. A CURA vai tornar-se um
sucesso se tiver impacto na vida das pessoas
e acreditamos (muito!) que isso é possível.

DOWNSIZE!


E


Liderou a equipa composta
só por mulheres
que venceu a edição
deste ano da Hack for
Good, da Gulbenkian com
a CURA, uma app dedicada
a mulheres migrantes.
Trabalha na Palo Alto
Software há quinze anos,
mas também integra
a equipa de produção do
TedxAveiro e colabora com
a London School of Design
and Marketing, o ESTGA,
a Universidade de Aveiro e
o Code Institute de Dublin.

através de uma landing page criada na tarde
do primeiro dia. Foi a primeira vez que
tivemos a sensação de que estávamos diante
de algo com pernas para andar.
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