ILUSTRAÇÃO: LOVATTO VOCÊ S/A wJANEIRO DE 2019 w 23
NATALIA GÓMEZ
A
pós quatro anos de re-
cessão, o Brasil ensaia,
enfim, uma retomada.
Segundo estimativas do
mercado, a economia
pode dar um salto de
2,5% em 2019. Se isso
acontecer, o país crescerá
o dobro dos dois anos anteriores, quando o PIB fechou
em pífio 1,1%. Mas nem tudo o que reluz é ouro.
Jair Bolsonaro está longe de ser unanimidade. A
verdade é que, apesar de sua equipe econômica, ca-
pitaneada por Paulos Guedes, possuir a simpatia do
setor privado, os empresários só avançarão diante de
um sinal verde. Em outras palavras, para que façam
investimentos parrudos e voltem a contratar (gerando
vagas de empregos), o atual presidente terá de cumprir
quanto antes suas promessas de campanha, como a
realização do ajuste fiscal e a aprovação da reforma
da Previdência. “Isso seriam provas de que pretende
combater a ineficiência do Estado brasileiro, o que
aumentaria a confiança do mercado”, diz Ricardo Ro-
cha, professor de finanças no Insper.
Colocar a máquina pública nos trilhos, sem efeitos
colaterais, é a visão otimista do que poderá acontecer
nos próximos meses. Para os mais céticos, no entanto, há
riscos no horizonte. Um deles é que as movimentações
escancaradamente pró-mercado levem à precarização
das condições de trabalho, voltando parte dos 57 mi-
lhões de eleitores contra Bolsonaro. Outro é que o atual
presidente não tenha jogo de cintura para lidar com os
diferentes interesses dos parlamentares.
Consultorias de negócios, como a Eurasia, acreditam
que o Congresso será o calcanhar de aquiles do governan-
te. Se quiser impor sua agenda liberal, Bolsonaro terá de
exibir uma habilidade de barganha que não demonstrou
possuir até agora, angariando líderes partidários que
levem suas pautas adiante durante as votações.
E os problemas não acabam por aí. Rodrigo de Losso,
professor no departamento de economia da Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade da Uni-
versidade de São Paulo (FEA-USP) e Ph.D. pela Uni-
versidade de Chicago, afirma que alinhar forças dentro
da própria base será um grande desafio. Quem vai falar
mais alto na sala de reuniões: os generais? O “posto
Ipiranga” Paulo Guedes? O superministro Sergio Moro?
Ou os três filhos de Bolsonaro? “O temperamento forte
dessas pessoas pode causar um curto circuito. Isso me
parece algo importante a ser considerado, embora seja
difícil mensurar seus impactos agora”, diz o professor.
Um guia para organizar as
contas, investir de maneira
mais inteligente e proteger
o orçamento das incertezas
do ano que começa