Você SA - Edição 248 (2019-01)

(Antfer) #1

70 wJANEIRO DE 2019 wVOCÊ S/A


Visões diferentes
De acordo com Anne-Laure e Tamar,
os regidos pelo relógio são “indiví duos
que dividem o tempo em unidades-
-padrão, objetivas e quantificáveis e
permitem que o relógio dite quando
as atividades começam e terminam”.
Um dia típico de alguém que se estru-
tura assim é bem parecido com o de
Raul Perez, de 28 anos, coordenador
de comunicação da SPcine, empresa
de cinema e audiovisual da Prefeitura
de São Paulo. De segunda a sexta-fei-
ra, ele acorda às 7h30, se arruma até
as 8 horas e toma café da manhã em
meia hora — assim consegue chegar
ao trabalho no centro da cidade até as
9 horas. Seus primeiros 90 minutos no
escritório são dedicados a responder
aos e-mails e a hora seguinte serve
para analisar os resultados da equipe
nos últimos dias. Religiosamente às
13 horas ele almoça. E assim o dia
continua, no cronômetro. “Sempre
me impus horários com o objetivo de
dar conta de tudo. Mas foi quando me
tornei coordenador que senti os maio-
res benefícios disso, principalmente
para orientar a equipe”, afirma Raul.
Do outro lado estão aqueles que
se orientam seguindo as tarefas que


precisam executar. Nesse caso, se-
gundo as pesquisadoras, o que rege a
agenda é a conclusão das atividades
— o início de uma tarefa depende da
realização de uma tarefa anterior. O
francês Charles Vatin, de 28 anos,
arquiteto de soluções digitais para
a América Latina na companhia de
tecnologia Keyrus, segue esse pa-
drão. Sem horário fixo para dormir
e começar a trabalhar — por causa
dos diferentes fusos horários com os
quais tem de lidar —, Charles come-
ça seu dia entre as 8 e as 10 horas,
dependendo do que precisa fazer.
“Toda manhã reviso minhas listas
de tarefas pessoais e profissionais
e ordeno as atividades por nível de
prioridade. Começo o dia pela mais
importante e, assim que a termino,
passo para a seguinte. Uma acaba
puxando a outra”, explica Charles.

Prós e contras
Na pesquisa, Anne-Laure e Tamar
apontam que não há certo e errado
em agir de uma maneira ou de ou-
tra. Christian Barbosa, especialista
em gestão do tempo, concorda: “Ne-
nhum estilo de se planejar é melhor
ou pior. O que acontece é que cada

pessoa se adapta mais a um ou a ou-
tro”. Mas as estudiosas dizem que há
diferenças drásticas entre os perfis.
Os “cronômetros de eventos”, como
foram apelidados pelas pesquisado-
ras, costumam ser mais assertivos na
realização das tarefas, o que os ajuda
a evitar resultados indesejados. Esse
comportamento, no limite, pode le-
var ao perfeccionismo. “Mas esse não
é necessariamente o objetivo. Eles se
esforçam para fazer o melhor possí-
vel, mas sabem que isso pode não
chegar à perfeição”, diz Anne-Laure.
Aqueles que se orientam pelo
relógio agem de outro jeito. Essas
pes soas são mais focadas em rea-
lizar suas tarefas e em seguir em
frente e, por isso, conseguem driblar
a procrastinação com mais facili-
dade. Uma das grandes desvanta-
gens desse pes soal, no entanto, é a
dificuldade em curtir o momento e
sentir emoções positivas, como en-
tusiasmo, orgulho e admiração. “Por
ter consciência de quanto tempo é
necessário para executar uma tare-
fa, quem é assim pode enxergar so-
mente o sentido prático dela e sentir
menos prazer em fazê-la”, explica a
psicóloga Erica Lopes Rodrigues,

Cara ou coroa?
Veja quais são as principais características dos dois perfis de organização de tempo apontados como mais comuns
pelas pesquisadoras Anne-Laure Sellier e Tamar Avnet. Lembre-se que é possível ter traços de ambos os estilos

Cronômetro de relógio

w Preferir usar o calendário
para se organizar
w Fugir da procrastinação
w Acreditar em acaso
w Ser criativo por um período
preestabelecido de tempo
w Gerir equipes com eficiência

Cronômetro de eventos

w Guiar-se por listas
de tarefas
w Tentar evitar resultados
indesejados
w Curtir o momento
w Pensar disruptivamente
w Sentir-se confiante ao liderar

PRODUTIVIDADE
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