A
última vez que
entrevistei Pe-
ter Thiel, está-
vamos no palco
da Conferência
LendIt, na pri-
mavera de 2016.
Thiel, cofunda-
dor do PayPal,
talvez estivesse
no ponto alto de
sua influência cultural. Seu livro De
Zero a Um, que postulou uma nova
maneira de pensar sobre inovação
e construir empresas de sucesso,
ficou por um longo tempo na lista
de best-sellers do New York Times
e foi um enorme sucesso na China
e em outros mercados estrangeiros.
A eleição presidencial aconteceria
em apenas sete meses; mas, durante
nossa entrevista, Thiel alegou que
não tinha nada a ver com isso. Ape-
nas algumas semanas depois, ele de-
clarou seu apoio a Donald Trump,
uma jogada que lhe custaria um
considerável capital social entre a
elite do Vale do Silício.
No dia em que conversei com ele,
no entanto, Thiel ainda era visto por
muitos como o rei filósofo do Vale do
Silício, em parte por seu papel fun-
damental no PayPal (que foi vendido
ao eBay em 2002, por 1,5 bilhão de
dólares) e por sua vasta gama de
investimentos (do Facebook e Tesla
à bioengenharia e energia nuclear);
porém, mais recentemente, por cau-
sa de seu influente livro. Aclamado
pela Atlantic como “uma articulação
lúcida e profunda do capitalismo e
de suas consequências na econo-
mia do século 21”, tornou-se leitura
obrigatória para empresários de tec-
nologia e outras pessoas influentes.
No palco do LendIt, Thiel usava o
uniforme-padrão do investidor de
capital de risco: jeans surrados,
cinto preto e uma camisa branca
com colarinho aberto impecavel-
mente passada. Ele suava. Não por
causa das minhas perguntas incisi-
vas, mas porque fica naturalmente
desconfortável à frente de plateias
e sob as luzes do palco.
Apesar de não ser um orador par-
ticularmente refinado (gagueja e é
repetitivo), parece pensar em cada
uma de suas respostas no momen-
to, em vez de confiar em tópicos de
discussão preparados. Nos primei-
ros dois terços da entrevista, ele
fez apontamentos interessantes e
perspicazes sobre questões como
a evolução da economia chinesa,
o estado da política americana e o
futuro da tecnologia.
Então, perguntei a ele sobre a fal-
ta de diversidade entre a elite do
Vale do Silício. Duas semanas antes,
a companhia de capital de risco de
Thiel, fundada há 11 anos, a Foun-
ders Fund, esteve nas manchetes
por ter contratado sua primeira
sócia, Cyan Banister (a esposa de
Scott Banister, um dos primeiros
membros do conselho do PayPal).
Thiel é líder
de mercado
há duas
décadas; mas,
apesar disso,
não assumiu
nenhuma
responsabilidade
pessoal pela
disparidade
de gênero da
tecnologia e,
aparentemente,
nem sequer
pensou em como
solucioná-la
Trecho do livro
A Máfia
do PayPal
e o mito da
meritocracia
VOCÊ S/A wJANEIRO DE 2019 w 77