Do outro lado do mundo, em centros de
pesquisa chineses, a mesma ligação entre
ômega-3 e ansiedade foi destrinchada em
uma revisão de 19 estudos sobre o tema,
envolvendo 2 240 participantes de 11 paí-
ses. Robusto e fresquinho, ele indica que a
substância seria capaz de abrandar os sin-
tomas da ansiedade. A nutricionista Selma
Sanches Dovichi, da Universidade Federal
do Triângulo Mineiro, analisou o trabalho e
explica que, entre outras coisas, o ômega-3
modula processos neurobiológicos, como
os sistemas de neurotransmissão e neuro-
plasticidade — basta entender que eles são
essenciais para manter a saúde mental. En-
tretanto, a professora é cautelosa e acredita
que mais pesquisas precisam ser realizadas
antes de bater qualquer martelo.
Mas, como o assunto borbulha, já que os
transtornos de ansiedade crescem ao redor
do globo, a ciência não para. Pesquisadores
franceses também estão atrás de respostas.
Em um artigo publicado recentemente, eles
exploram os possíveis mecanismos por trás
das benesses da família poli-insaturada.
Tanto EPA quanto DHA — mais comuns
em peixes — parecem interferir no chama-
do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. “Com
isso, colaboram para reduzir a liberação de
substâncias como o cortisol”, observa a nu-
tricionista Maria Fernanda Cury Boaventu-
ra, da Universidade Cruzeiro do Sul, em São
Paulo. Trata-se de um hormônio que, em
excesso, tem tudo a ver com o estresse.
Ainda que alguns estudos mencionem o
potencial das cápsulas de ômega-3 no com-
bate à ansiedade, não se chegou a nenhum
consenso sobre sua recomendação para
esse fim. Fora que especialistas não acon-
selham ingerir suplementos por conta pró-
pria. E, vamos combinar, é melhor sabore-
ar comida a engolir drágeas. Fica, então, o
convite para se render ao sushi. Só o ritual
dos restaurantes japoneses já é pura calma-
ria. Para completar, os peixes tradicionais
dessa cozinha estão repletos de ômega-3.
E sabe o motivo de os pescados acumu-
larem essa gordura? É que ela tende a ser
mais líquida. Os nadadores de águas pro-
fundas e gélidas não poderiam concentrar
no organismo um tipo mais consistente,
pois acabariam congelados. “Quanto à sar-
dinha, embora o habitat seja menos frio, o
comportamento migratório faz com que a
espécie precise de grandes aportes de ener-
gia”, explica Hellen Kato, pesquisadora da
Embrapa Pesca e Aquicultura.
Uma estratégia para aproveitar até a úl-
tima gota é comer o peixe com a pele mes-
mo. “Ali, nas vísceras e na cabeça, estão as
maiores concentrações de ômega-3”, diz o
nutricionista Dennys Cintra, da Universi-
dade Estadual de Campinas (Unicamp). As
melhores fontes vegetais, caso de linhaça
e chia, oferecem a versão chamada ALA,
precursora do EPA e do DHA. Dentro do
organismo, pela ação de enzimas, ela se
converte, revelando seus dotes. É só ter
calma... Mas isso, investindo no cardápio
certo, você terá de sobra.
EM PROL DA SAÚDE MENTAL
A boa atuação do ômega-3 vai além da ansiedade
DEPRESSÃO Eis o principal alvo de estudos. Nesse
caso, entre os trunfos da gordura está a modulação
de neurotransmissores associados ao humor.
TDAH O nutriente atenuaria sintomas do transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade. Há correntes que
incentivam seu consumo na gestação como medida preventiva.
AUTISMO Pesquisas apontam que a ingestão de
ômega-3 traria mais qualidade de vida a alguns indivíduos
com a doença. A interação social sairia beneficiada.
ESQUIZOFRENIA Há bons indícios de que
DHA e EPA seriam capazes de interferir nos
mecanismos envolvidos nas crises de alucinação.
TRANSTORNO BIPOLAR Marcado por oscilação
no humor, esse distúrbio é mais um dos investigados por
ser passível de melhora com a presença de ômega-3.
36 • SAÚDE É VITAL • JANEIRO 2019