Um bom exemplo de solidão aguda que
pode se tornar crônica é a do luto. Superar
a perda de um ente querido nunca é fácil.
Mas a tarefa de seguir adiante pode se tor-
nar ainda mais difícil em casos de mortes
repentinas, violentas, múltiplas ou de filhos.
“Nesses casos, sentir raiva, culpa ou tristeza
é perfeitamente normal. O que precisa ser
observado é se tais sintomas perduram por
muito tempo ou impedem o enlutado de re-
tomar sua vida”, esclarece a psicóloga Ingrid
Esslinger, do Laboratório de Estudos sobre
a Morte da Universidade de São Paulo. “Há
pessoas que, mesmo depois de anos, ainda se
emocionam ao falar da perda que sofreram
ou não conseguem se desfazer dos pertences
do morto.” Quando isso acontece, pode ser
bem-vinda uma sessão com o psicólogo.
O corpo sente
Nos últimos anos, cientistas vêm esmiuçan-
do os possíveis efeitos fisiológicos da soli-
dão. Uma das descobertas é que seu impac-
to é semelhante ao do estresse. Em estado
de tensão constante, você tende a relaxar
menos e a dormir mal. No organismo, o
cortisol, apelidado de hormônio do estres-
se, vai às alturas. Tá, mas o que isso signi-
fica na prática? Ora, uma maior exposição
a problemas de saúde. Na Universidade de
Newcastle, também em solo inglês, uma
equipe detectou que a alta do cortisol eleva
o risco de doenças cardiovasculares e, por
sabotar a imunidade, nos deixa mais pro-
pensos a gripes, resfriados e outras infec-
ções. Num balanço geral, os pesquisadores
de Chicago chegam a estimar um aumento
de 26% na probabilidade de morte prema-
tura entre quem vive sozinho demais.
Antes das repercussões físicas, porém, é
provável que a desconexão social impacte
a esfera mental. Indivíduos muito solitá-
rios estão no grupo que mais sofre de an-
siedade, fobia e depressão. A solidão afeta
uma área do cérebro, o córtex pré-frontal,
responsável pela tomada de decisões. E
isso ajuda a explicar por que sujeitos que
O LADO BOM DE FICAR SOZINHO
Ao contrário da solidão, estar só costuma ter seu lado
positivo. Em 1997, o escritor norueguês Jo Nesbo descobriu
que o voo que o levaria de Oslo, na Noruega, onde mora,
até Sydney, na Austrália, onde passaria as férias, levaria
32 horas. O que ele fez? Abriu seu laptop e começou a
trabalhar ali mesmo. Seu primeiro livro nasceu a bordo de
um avião. “Às vezes, é bom tirar férias do mundo e passar
52 • SAÚDE É VITAL • JANEIRO 2019