COM A PALAVRA
66 • SAÚDE É VITAL • JANEIRO 2019
O
câncer é um dos maiores
desafios do século. A doença
é responsável por mais de um
quarto de todos os óbitos e, até
2030, será a principal causa de
morte no planeta. No congresso
da Agência Internacional de
Pesquisa sobre o Câncer (Iarc),
que ocorreu na Malásia, foram
divulgadas estimativas indicando
18 ,1 milhões de novos casos e 9, 6
milhões de falecimentos pela
enfermidade só no ano de 2 018.
Como é de esperar, países de
renda menor sofrem mais
oimpacto. Em resumo, o câncer
está para os tempos atuais
como a peste negra esteve
para a Idade Média.
Um passo para tentarmos
modificar essa história é entender
bem o tema, os números e os
tipos de tumor. Quando somamos
ambos os sexos, o câncer de
pulmão é o mais comum (11,6%
dos casos) e também o mais
mortal (18,4% dos óbitos pela
doença). O maior promotor
desse problema é, de longe,
otabagismo, que já matou
50 milhões de pessoas na
última década. Se as tendências
continuarem, 1 bilhão de pessoas
morrerão pela exposição ao
tabaco neste século, o que
equivale a um falecimento a
cada seis segundos.
Além de consequências que
podem ser devastadoras para o
doente e seus familiares, cabe
salientar a repercussão coletiva
da doença. Um estudo extenso
do núcleo de inteligência da
revista The Economist, com o qual
pude contribuir, aponta que os
custos diretos da assistência
oncológica aumentaram muito
nas duas últimas décadas. Nos
Estados Unidos, estima-se que os
gastos passaram de 27 bilhões de
dólares em 1990 para mais de 125
bilhões em 2 010. Se os custos da
atenção ao câncer crescerem
2% anualmente, os gastos
projetados para 2020 serão de
174 bilhões de dólares.
No Brasil, a mesma pesquisa
estimou o custo anual direto com
câncer de pulmão, só pelo
Sistema Único de Saúde (SUS),
em 25 0 milhões de dólares. A
conta no sistema privado é ainda
maior, apesar de estar disponível
para só parte da população. Se
oSUS desembolsasse o mesmo
que o sistema privado para cada
paciente com tumor de pulmão,
essa cifra subiria para 1,7 bilhão
de dólares!
Os vários novos tratamentos
na área da oncologia só serão
efetivamente uma realidade
se construirmos soluções
que ultrapassem os desafios
financeiros evidentes. Nenhuma
conquista será verdadeira se
não tivermos as ferramentas,
incluindo a coragem, de pautarmos
questões complexas, como um
financiamento realista das armas
que possuímos hoje contra o que
deve ser o mal do século 21.
Stephen Stefani
é oncologista do
Hospital Mãe de
Deus (RS) e presidente
do capítulo Brasil
da Sociedade
Internacional de
Farmacoeconomia
e Estudos de
Desfechos (Ispor)
Dr. Stephen Stefani
Câncer de pulmão: um mal para
a saúde e as contas públicas
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