você está ansioso e vai
caminhar em uma rua
escura, pode sentr me-
do com algo que geral-
mente passaria batido
- como uma sombra ou
o barulho de um galho
quebrando.
Nossas mentes são
propensas à ansiedade.
Ela nos touxe até aqui
porque, no grau certo, é
benéfica. Mas certas ca-
racterístcas da vida nas
cidades parecem ter dado
um curto-circuito nesse
mecanismo.
Formigueiros
ansiosos
Durante cinco anos, o
Instituto de Psiquiatria
da Faculdade de Medi-
cina da USP (IPq) ente-
vistou 5.037 moradores
da região metopolitana
de São Paulo para medir
a incidência de tanstor-
nos mentais na maior área
urbana do Hemisfério Sul.
Resultado: 19,9% dos pau-
listanos sofrem de tans-
tornos de ansiedade – o
dobro da média brasileira.
Essa descoberta é es-
pecialmente relevante
num momento em que as
megacidades se multpli-
cam, impulsionadas pelo
êxodo rural nos países em
desenvolvimento. Hoje, há
31 cidades com mais de 10
milhões de habitantes; em
2030, serão 41, sendo 33
em países em desenvolvi-
mento. E elas, como São
Paulo, afetam a saúde
mental de seus moradores.
Embora o estdo não
tenha apontado o que cau-
sa tanta ansiedade em SP,
possibilidades não faltam.
“O ambiente urbano de
uma metópole como São
Paulo pode exacerbar a
sensação de insegurança
em indivíduos predispos-
tos ao tanstorno de ansie-
dade”, afirma o psiquiata
Lucas Gandarela, do IPq.
Redes familiares menos
estutradas, abusos na
infância, maior exposição
à violência, uso de subs-
tâncias psicoatvas e até o
alto custo de vida. “Todos
esses são fatores de risco
para os transtornos de
ansiedade”, diz Gandarela.
A violência é um fator
gritante. Dos entevista-
dos pela USP, 54% dis-
seram ter sofrido ou pre-
senciado algum episódio
violento traumático –
como ser assaltado à mão
armada ou ver alguém ser
morto. Ente os que sofre-
ram tês ou mais episódios
de violência, a chance de
tanstorno de ansiedade
é 3,5 vezes maior.
E violência é o que não
falta no Brasil. Nós somos
o país mais homicida do
mundo: temos 60 mil ca-
sos por ano. Esse número
equivale à soma de todos
os assassinatos regista-
dos em 52 países (a lista
inclui desde nações de
primeiro mundo, como
EUA, França e Canadá,
até países como Sérvia e
Líbia). Isso é uma chave
para explicar a ansiedade
do brasileiro.
Não são necessários,
porém, violência e ca-
os para que uma cidade
produza ansiedade. Mes-
mo as cidades alemãs,
famosas por sua ordem
e tanquilidade, têm ta-
xas de ansiedade mais
altas que as zonas rurais
daquele mesmo país. Foi
o que constatou Andreas
Meyer-Lindenberg, pro-
fessor de psiquiatria da
Universidade de Heidel-
berg, em um estdo com
32 voluntários saudáveis.
O pesquisador pediu que
eles resolvessem exercí-
cios de aritmética, com
um cronômeto correndo.
A dificuldade foi ajustada
para que a taxa de acerto
ficasse ente 25% e 40%.
“Dizíamos que o desem-
penho deles estava abaixo
da média e sugeríamos,
impacientemente, que se
apressassem”, conta Meyer-
-Lindenberg. Enquanto is-
so acontecia, o cérebro dos
voluntários era monitora-
do com um aparelho de
ressonância magnétca.
Cada
brasileiro
gasta em
média 3h39
por dia nas
redes so-
ciais. Mas
é comum
o medo
de deixar
passar algo
- e ele gera
ansiedade.
a vida digital é um
scroll infinito – para
o qual nosso cérebro
não está preparado.
De onDe ela vem
A ansiedade é desencadeada por
acontecimentos estressantes - nos
quais o Brasil tem sido pródigo.
Fontes IBGE, São Paulo Megacity Mental Health Survey, FGV, Instituto Igarapé e Datafolha
economia social violência
dos brasileiros
sentem muito
medo de serem
50
6 , 8
11 , 7
42
já foram
agredidos
com
31 mil
registros
341 mil
registros já sofreram
ameaça de morte
em 1984
em 2014
%^5
%
%
%
%
16
assassinados
arma de
fogo
milhões
De 2014 para cá,
o Brasil teve
número de
divórcios
no Brasil:
no PiB
7
queda de
e o desemPrego
quase doBrou:
subiu de
Para
Pessoas separadas,
viúvas ou
divorciadas têm
mais risco de
transtorno
de ansiedade
milhões
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