Superinteressante - Edição 399 (2019-02)

(Antfer) #1




TransTorno
de ansiedade
social O ansioso
tem muito medo de
ser julgado, humilhado ou fcar
envergonhado em situações
sociais – a ponto de evitá-las
completamente. Estudos consta-
taram que, quando essas pessoas
veem fotos de rostos, a atividade
de sua amígdala aumenta.
Ou seja: tudo o que elas vivem
em situações sociais acaba sendo
vinculado ao medo.

síndrome
do Pensamen-
To acelerado
É desencadeada
pela exposição a quantidades
excessivas de um ou mais es-
tímulos (atividades demais,
consumo exagerado de
informação, uso compulsivo de
celular e computador). Provoca
ansiedade, difculdade de con-
centração e lapsos de memória,
entre outros sintomas.

nunca hou-
ve tantas
opções de
escolha,
em tudo


  • desde
    cursos uni-
    versitários
    até matches
    no Tinder.
    e isso é
    ótimo. mas
    também
    tem um
    lado nega-
    tivo: gera
    ansiedade.


social da Universidade de
Chicago. “O cérebro colo-
ca as pessoas em modo de
autopreservação quando
elas se veem sem prote-
ção ou assistência”, diz
Cacioppo. Você não está
sob ameaça de ser ex-
pulso do seu grupo so-
cial, mas o cérebro acha
que sim – e dispara o me-
canismo da ansiedade.
As redes sociais surgi-
ram como uma ferramenta
capaz de reconectar ami-
gos, familiares e colegas e
evitar que vínculos desa-
pareçam. Segundo Robin
Dunbar, a maioria das
pessoas com quem nos
relacionamos nos meios
eletônicos são conheci-
dos de nossa vida offline.
“As redes sociais permi-
tem reconstuir, ainda que
virtualmente, o tipo de
comunidade antga onde
todos conheciam uns aos
outos”, afirma o antopó-
logo. Mas essa reprodução
não é perfeita: o convívio
nas redes sociais não tem
a sincronicidade de uma
mesa de bar – mesmo
quando dois amigos ve-
em o mesmo vídeo, por
exemplo, cada um ri sozi-
nho. Além disso, as redes
sociais alimentam mais
uma fonte de ansiedade

da vida contemporânea:
o excesso de escolhas.

O paradoxo
da escolha
Nunca na história a hu-
manidade teve tantas
opções: desde cursos
universitários altamente
especializados até o fluxo
infinito de potenciais ma-
tches no Tinder. Em tese,
mais escolhas significam
mais liberdade, e mais
liberdade eleva o bem-
estar. Mas não foi isso o
que psicólogo americano
Barry Schwartz descobriu
em seus estdos. “Ela pro-
duz paralisia, em vez de li-
berdade”, afirma Schwartz,
autor do livro The Paradox
of Choice (“O paradoxo da
escolha”, ainda não lança-
do no Brasil). Com tantas
opções, fica difícil decidir


  • o que gera ansiedade.
    Além disso, quando
    há muitas escolhas, as
    pessoas acabam menos
    satsfeitas com a decisão
    que tomam. Isso pode ser
    explicado por um concei-
    to básico da economia: o
    chamado “custo de opor-
    tunidade”. O preço de
    fazer uma escolha é abrir
    mão de todas as alterna-
    tvas. Isso vale para tdo:
    de escolher um filme para


ver no Netflix a engatar
um relacionamento. Ao
optar por uma relação sé-
ria com uma pessoa, você
automatcamente deixa de
lado todas as demais pes-
soas mais ataentes, mais
divertdas e mais boas de
cama que sempre estarão
por aí. A existência de tan-
tas alternatvas acaba ele-
vando as expectatvas, e as
dúvidas sobre se você fez
a escolha certa. Resultado:
mais ansiedade.
Para piorar, as redes
sociais multplicaram as
opções. Celulares permi-
tem o acesso ininterrup-
to ao que outas pessoas
fazem de suas vidas. As
incontáveis atalizações
de Facebook, tweets, fotos
do Instagram, mensagens
de WhatsApp e Snapchat
mostam todos os acon-
tecimentos mais bacanas
que amigos escolheram
compartilhar. Por um
lado, isso é bacana. Fica-
mos sabendo que pessoas
de quem gostamos estão
vivendo bem. Por outo,
isso taz desconforto: ca-
dê você na foto? Será que
você está aproveitando
sua vida tão bem quan-
to os seus amigos? Com
as redes sociais, o medo
de ficar de fora ficou tão
comum que até recebeu
uma sigla: “FoMO”, de fear
of missing out.
O FoMO está direta-
mente relacionado ao ar-
rependimento, segundo o
psicólogo Dan Ariely, da
Universidade Duke. Toda
pessoa avalia com fre-
quência a própria felici-
dade. Para isso, não le-
vamos em conta apenas
nossa sitação atal, mas
também cenários alterna-
tvos – e as mídias sociais
estão repletas de mundos
paralelos em que poderí-
amos viver. Quando, em

comparação, concluímos
que estamos piores que os
outos, sentmos remorso,
como se a felicidade alheia
fosse nossa miséria. O fato
de as atalizações serem
em tempo real faz com
que o sentmento seja ain-
da mais intenso. O FoMO
surge, então, como uma
estatégia de antecipação
de uma ameaça futra –
ficar de fora. “Ele é como
um seguro”, diz Ariely.
“Ficamos checando, che-
cando, checando [as redes],
para evitar um arrependi-
mento futro.”
As redes sociais geram
ansiedade não só porque
mostam constantemen-
te tudo o que você está
perdendo, mas também
porque alteram a imagem
que as pessoas fazem de
si próprias. É que as redes
servem como megafone
para as realizações e lu-
pa para as inseguranças.
De um lado, os usuários
empenham-se em formar
uma imagem desejável de
si, com imagens selecio-
nadas de seus melhores
momentos, textões lacra-
dores e relatos de grandes
conquistas. Mas quem lê
esses posts, do outo lado,
são pessoas reais, repletas
de inseguranças. Com o
contaste ente o que os
outros buscam parecer
e aquilo que nós acredi-
tamos ser, acabamos cal-
culando o nosso próprio
valor de forma distorcida.
É o que afirma uma pes-
quisa da Royal Society
for Public Health, na In-
glaterra, que foi realizada
com 1.479 jovens entre
14 e 24 anos para medir
o impacto das redes so-
ciais sobre a saúde men-
tal. “As expectatvas irre-
alistas estabelecidas pelas
mídias sociais deixam
jovens com sentmentos

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