Texto Guilherme Eler
realidades paralelas
e se...
Você nem se dá conta disso, mas
ViVe em um pião que gira a 1.669
quilômetros por hora. É essa, pelo
menos, a velocidade da rotação terreste
na linha do Equador – ponto do planeta
em que atnge seu valor máximo.
O porquê de não ficarmos enjoados
com o movimento e pedirmos para
descer do brinquedo é bem simples:
tdo que sua vista alcança está girando
junto com você, no mesmo ritmo. Se
algo fosse capaz de extnguir o rodopio
natral da Terra, como se ela fosse um
globo escolar que você freia com o dedo,
então, é óbvio que teríamos problemas.
Dá para imaginar essa pausa de duas
maneiras: primeiro, como uma freada
brusca; segundo, como uma desace-
leração mais branda, em que a esfera
fosse perdendo velocidade aos poucos
até parar. Ainda que, em ambos os ca-
sos, o resultado final fosse o mesmo
- fazer o velocímeto terreste chegar
a zero – os impactos seriam diferentes.
Sobretdo no primeiro momento.
Caso a freada fosse instantânea, tdo
seria arremessado no sentdo Leste, o da
rotação da Terra, com uma força inacre-
ditável. É a primeira lei da mecânica em
ação, mostando que aquilo que está em
movimento vai permanecer em movi-
mento. A estátca de prédios, carros, pon-
tes e a sua própria, leitor, seria rompida
à velocidade de rotação da Terra – que
varia em diferentes pontos do globo,
sendo menor em áreas de maior lattde.
... a Terra
parasse?
de olhos seria cessar a rotação de forma
menos brusca. Questão de tming.
Podemos tomar o exemplo de Bra-
sília, que gira a 1.620 km/h (ou 450
metos por segundo). Se a frenagem
da Terra levasse um segundo, nossos
polítcos da esfera federal seriam sub-
metdos a uma aceleração de 45 G – 45
vezes mais forte que a da gravidade.
Para que a desaceleração fosse segu-
ra, ela deveria ficar próxima a 1 G – 10
metos por segundo a cada segundo,
numa notação mais científica. O tempo
de frenagem ideal para Brasília, então,
deveria ser de 45 segundos.
Não que fosse ficar tudo certo. Uma
Terra parada perderia seu campo mag-
nético, nos deixando completamente
Em suma: quem mora em São Paulo,
longe da linha do Equador, mas nem
tanto, seria arremessado para o Leste a
1.535 km/h. Quem vive em Porto Ale-
gre, ainda mais ao Sul, a 1.446 km/h.
Os 2.144 habitantes da cidade de Lon-
gyearbyen, a mais setentional do mun-
do, na Noruega, seriam mais poupados.
O lugar fica tão perto do Polo Norte que
a cidade gira a meros 346 km/h. Ou seja,
os moradores também seriam acelera-
dos instantaneamente a uma velocidade
mortal, mas menos absurda.
Outo detalhe: a atmosfera também
contnuaria girando. Ventanias supersô-
nicas terminariam de levar para os ares
aquilo que teimasse em ficar preso no
chão. Nos oceanos, tsunâmis fariam a
água salgada avançar para os contnentes.
Não fica nisso, principalmente se con-
siderarmos que a maior parte da água
dos oceanos fica concentada perto da
linha do Equador. Nessa área, o mar é
até 8 quilômetos mais “alto” que em
outas regiões. Culpa da força centífu-
ga, que faz a água acumular por lá con-
forme a Terra gira – como se o planeta
fosse uma máquina de lavar gigante.
Com a Terra parando, esse acúmulo
deixaria de existr. E os mares toma-
riam, pela primeira vez na história
geológica da Terra, o seu formato na-
tral. O excesso de água na cintra
do planeta, então, escorreria para os
polos. Com uma lâmina de água quilô-
metos mais baixa, novos contnentes
iriam emergir nas áreas equatoriais do
Atlântco, do Pacífico e do Índico. Lá
em cima, partes do Canadá, do norte da
Europa e da Rússia sumiriam, segundo
prevê um modelo matemátco criado
pela Esri, uma empresa americana de
mapeamento geográfico.
A única forma de impedir que as coi-
sas virassem do avesso em um piscar
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