Aventuras na História - Edição 143 (2015-06)

(Antfer) #1
FOTOS DIVULGAÇÃO

acordo com pesquisas feitas pelo au-
tor, durante os 23 dias do conf lito,
503 pessoas morreram vítimas da
troca de tiros, balas de canhão e
bombas lançadas por aviões sobre a
cidade. Outras 4 846 ficaram feridas.
Documento oficial elaborado pelo
então prefeito de São Paulo, Firmia-
no de Morais Pinto, atesta que 1 800
imóveis foram destruídos, 212 mil
pessoas evadiram para cidades do
interior, fugindo do conf lito mortal
de trem, a pé, de bicicleta e até em
carros funerários. Um número es-
pantoso, quando se sabe que São
Paulo tinha uma população de 700
mil pessoas na ocasião. Comparando
com os 10 milhões de pessoas que
vivem na cidade hoje, seria o equi-
valente ao êxodo de 3 milhões de
paulistanos.
O conf lito, que se iniciou em um
sábado com a tomada dos principais
quartéis da cidade e na vizinha Osas-
co, já no dia seguinte teria de enfren-
tar uma grande ameaça com a chega-
da no porto de Santos de 2 mil fuzi-
leiros navais desembarcados do
porta-aviões Minas Gerais, onde
vieram também quatro aviões de
guerra. Já na sexta-feira seguinte,
começaram os bombardeios com ca-
nhões sobre os bairros do Brás, Be-
lenzinho e Mooca, na zona
leste da cidade. A popula-
ção começou a fugir. Os
rebeldes tentaram negociar
uma rendição, mas os ata-
ques continuaram, utili-
zando agora aviões. Lutou-
se em todos os bairros da
capital durante duas sema-
nas. O bombardeio só foi
suspenso quando as tropas
revoltosas, 3 500 soldados,
abandonaram a cidade em
um trem para o interior.

Mas o mais instigante
da obra está na reprodução
de dezenas de trechos das
cartas escritas por mora-
dores a parentes, ou depoi-
mentos dados por eles em
que falam do medo de se-
rem mortos, dos saques
feitos pela população, que
chegou a passar fome du-
rante os dias do conf lito. E,
mais chocante, atrocidades
gratuitas cometidas tanto

por soldados revoltosos quanto lega-
listas. Um exemplo é o relato de Jose-
phina Moschi, de 42 anos, sobre a
morte do marido, Augusto Moschi,
que no dia 9 de julho, ao tentar com-
prar algum alimento em um arma-
zém, na Rua do Hipódromo, passou
ao lado de uma trincheira dos revol-
tosos. “Um soldado, que parecia em-
briagado, o alvejou, ferindo-o grave-
mente. Augusto foi levado à Santa
Casa e, após longo sofrimento, fale-
ceu no dia 3 de agosto.”

São Paulo Deve Ser Destruída, Moacir
Assunção, Editora Record, 280 págs.,
R$ 49

Grandes incêndios
foram provocados,
como o da foto,
que consumiu um
armazém na
Mooca. Abaixo,
postados no morro
do bairro da
Penha, canhões
legalistas
atiravam sobre
residências civis

AVENTURAS NA HISTÓRIA | 53

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