REPORTAGEM
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OS CARROS DO METRÔ
Gisele é
operadora
de trens há
quatro anos
são abaixadas quando o veículo entra
nos trilhos. E, como não há espaço
para dar meia-volta no túnel, na hora
de voltar é usada uma relação que in-
verte toda a transmissão. Isso permite
ao veículo andar de ré com as mar-
chas convencionais à frente.
Na frota dos terra-via também fica
um dos xodós dos funcionários: uma
Chevrolet C11000 1985 que até hoje
labuta nas madrugadas paulistanas.
Mais velhos são os primeiros trens
do Metrô. A antiga Frota A foi feita a
partir de 1972 pela extinta Mafersa,
no bairro da Lapa. As composições
foram recentemente modernizadas e
ganharam câmeras, novos motores,
bancos e ar-condicionado.
ADAPTAÇÃO A empresa ainda preci-
sa lidar com o alto custo dos equi-
pamentos ou até sua ausência. Um
exemplo é o medidor ultrassônico de
fadiga do eixo, criado pelos funcioná-
rios da manutenção usando um motor
elétrico, cardã de caminhão e sensor
da SKF. Ele permite que os operadores
analisem a integridade estrutural do
eixo de tração sem a necessidade de
desmontar o conjunto. O processo de
medição, inclusive, lembra os antigos
balanceamentos de pneus feitos com
as rodas instaladas no carro. Outra
solução para reduzir custos foi com-
prar a patente dos discos de freios,
permitindo sua produção local a um
preço bem menor.
Mesmo assim, a empresa enfrenta
a pressão de lidar com o crescente vo-
lume de usuários (3,7 milhões por dia)
e com o lento crescimento da malha
(eram 16,7 km na estreia, em 1974, e
hoje são 96,4 km). Espera-se algum
alívio nos próximos anos, quando um
novo sistema de controle, o CBTC,
passar a funcionar. Ele permitirá que
os trens andem mais próximos entre
si sem afetar a segurança, aumentan-
do a oferta de lugares. As novidades
vão exigir ainda mais do time de ma-
nutenção, mas não será um problema.
Eles estão acostumados com alta tec-
nologia há décadas.
Renata supervisiona o QG do Metrô
MULHERES NO COMANDO
M
ulheres no comando de um trem
não é novidade no Metrô. Desde
o início da operação, a companhia
estimula a presença delas em todos
os cargos: mas se hoje elas são 19,5%
dos funcionários, só 15% têm cargo
de chefia, segundo o próprio Metrô.
Uma delas é Renata Yamanaka, res-
ponsável por supervisionar o CCO do
Paraíso, cérebro das três principais li-
nhas da companhia. “Aqui fazemos o
acompanhamento de toda a operação
comercial e elaboramos estratégias
em caso de problemas”, conta.
Entre os imprevistos, há comércio
ambulante, aumento inesperado do
volume de passageiros e até mesmo
a entrada de um cadeirante no siste-
ma. “Acompanhamos a pessoa com
deficiência desde o momento em que
passa na catraca até sua saída”, expli-
ca Renata. E nessa hora o computa-
dor dá espaço ao ser humano.“Quan-
do um cadeirante precisa embarcar
ou desembarcar, o operador inibe o
ATO para que as portas fiquem aber-
tas pelo tempo que for necessário
para dar segurança ao usuário”, de-
talha Gisele de Araújo, que há quatro
anos é operadora de trem no Metrô.
Também cabe a ela auxiliar os
usuários em caso de evacuação do
trem, como quando há queda de
energia elétrica. Por isso a “habilita-
ção” para pilotar um trem é mais de-
morada, e leva de três a quatro meses.
Além disso, cada uma das sete
frotas de trens requer treinamento es-
pecífico. E há coisas que só o dia a dia
ensina. “Com o tempo, dá para perce-
ber que o trem não fará a parada pro-
gramada na estação pela forma como
entra na plataforma, e aí acionamos o
freio de forma manual”, diz Gisele.
76 QUATRO RODAS FEVEREIRO