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Suspensos por bóias no azul, sets de pequenas
câmaras de acção vagueavam ao sabor da corren-
te. De todas as vezes que deparavam com animais,
imortalizavam a sua figura para mais tarde ser
processada através de software capaz de calcular
minuciosamente a dimensão de cada indivíduo,
quer se tratasse de uma gigantesca baleia ou da
mais pequena sardinha.
Enquanto todos os trabalhos científicos decor-
riam nas águas circundantes das ilhas do Corvo,
Flores, Faial e Pico, uma equipa de fotógrafos e vi-
deógrafos recolheu imagens para mais tarde serem
integradas em programas de literacia dos oceanos
e acções de sensibilização da comunidade.
D
E REGRESSO À ILHA DO CORVO, desta
vez na reserva voluntária local (a pri-
meira constituída no país), uma dança
entre um homem e um peixe parecia não ter fim.
Pedro Afonso, investigador da Universidade dos
Açores, susteve a respiração durante quase três
minutos enquanto tentava capturar um mero de
grande porte. “Assim não dá, vai ter de ser com gar-
rafa”, transmitiu o biólogo à equipa de superfície.
Mergulhando novamente num jogo de paciên-
cia, Pedro Afonso talvez tenha sentido momen-
taneamente saudades do Faial, ilha onde estes
animais se mostram mais amigáveis para a colo-
cação de marcas acústicas. Esta tecnologia per-
mite revelar as movimentações desta que é uma
das espécies mais cobiçadas pelos pescadores,
produzindo um indicador fiável sobre a eficácia,
ou não, da reserva marinha enquanto refúgio.
“De acordo com as nossas estimativas, o Corvo é
de facto a zona com maior densidade de meros do
país”, revelou Pedro Afonso.
Após três semanas no mar, os navios regressa-
ram a terra para o descanso dos guerreiros e aná-
lise dos resultados preliminares. Durante as 650
milhas percorridas, foram cartografados 21.469
quilómetros quadrados de fundo marinho, realiza-
dos 600 mergulhos e 60 horas de exploração com o
ROV Luso. Foram números surpreendentes de uma
campanha afortunada, mas nem tudo foram rosas.