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Achille Diodio é o tipo de talento em ascensão
de que a AP precisa. É congolês, nascido numa
vila dos arredores de Garamba e teve a sorte de a
família ter conseguido mandá-lo estudar na escola
secundária de uma cidade maior e depois frequen-
tar a Universidade de Kisangani. Ganhou uma bol-
sa de estudos na China e dali seguiu para Harbin,
onde passou o primeiro ano a aprender o idioma.
Já falava lingala, suaíli, francês, inglês e um pouco
de kikongo, mas conseguiu dominar o mandarim.
Quatro anos mais tarde, com um mestrado de uma
boa universidade e uma tese sobre elefantes congo-
leses, juntou-se à AP como voluntário. A organiza-
ção não tardou a oferecer-lhe emprego.
Vários membros da direcção da AP referiram
aquilo que consideram um desafio urgente: for-
mar e impulsionar os jovens africanos para al-
cançarem posições de liderança. Vou apresentar
as coisas de maneira crua: a AP precisa de mais
rostos negros no topo. Peter Fearnhead reconhe-
ceu esta necessidade, dizendo que é um problema
geral de todo o sector da conservação em África,
durante muito tempo dominado pelo Estado.
Da mesma maneira, as ONG, incluindo a AP,
não fizeram o suficiente para formar os africanos
em biologia e gestão no âmbito da conservação.
“Temos de investir mais nesse sentido”, disse Pe-
ter. Jovens congoleses brilhantes com interesse
pela conservação, como Achille Diodio, não de-
veriam ser obrigados a percorrer meio mundo e a
estudar mandarim.
A ÊNFASE NAS FORÇAS de vigilantes paramilitares
coloca a AP perante outra questão delicada: a res-
ponsabilização dessa força armada. A WWF, outra
organização de conservação, foi alvo de críticas no
início deste ano devido a alegações segundo as
quais as forças contra a caça furtiva que financiara
na Ásia e em África violaram os direitos humanos
de alegados caçadores furtivos. A WWF pediu uma
análise independente destas alegações e o grupo
de revisão (liderado pelo juiz Navi Pillay, antigo
alto comissário das Nações Unidas para os Direitos
Humanos) ainda não divulgou o seu relatório.
Em que medida é a AP diferente? “O nosso
modelo torna-nos responsáveis pelos vigilantes.
Eles são dos nossos”, disse-me Markéta Antoní-
nová, uma mulher checa que estudou em Praga
e trabalha com a AP há mais de uma década.
Markéta foi gestora de projectos especiais da
AP no Parque Nacional de Pendjari, no Norte do
Benin, onde foi responsável pela investigação e
aplicação da lei. Ao contrário da WWF, disse, a
AP contrata directamente os seus vigilantes da
natureza e assume a responsabilidade por tudo
o que eles fizerem.
Pendjari é o último refúgio importante de
elefantes e leões na África Ocidental. Faz par-
te de um complexo transfronteiriço que inclui
parques adjacentes no Burkina Faso e no Níger,
e a zona protegida de Pendjari (como o ecossis-
tema de Garamba) abrange zonas-tampão junto
dos seus limites meridionais e orientais, onde
as comunidades autóctones estão autorizadas
a caçar. Também é uma das mais recentes in-
corporações no portfólio de gestão da AP, desde
2017, com um contrato de dez anos e um acordo
de colaboração no valor de 20,7 milhões de euros
com o governo do Benin, a Fundação Wyss e a
National Geographic Society.