20 • Público • Sexta-feira, 1 de Novembro de 2019
SOCIEDADE
Turismo do Norte beneficiaria
mulher de ex-autarca com
comissões até 30 mil euros
Ex-líder do Turismo,
Melchior Moreira,
vai manter-se em prisão
preventiva, por decisão
do juiz de instrução
Operação Éter
Mariana Oliveira
[email protected]
Melchior Moreira está em prisão preventiva há mais de um ano
Vários responsáveis do Turismo do
Porto e Norte de Portugal, incluindo
o ex-presidente Melchior Moreira, são
acusados pelo Ministério Público
(MP) de favorecer a empresária da
área da comunicação Manuela Couto,
mulher do ex-presidente da Câmara
de Santo Tirso, Joaquim Couto. A acu-
sação diz que Melchior Moreira acor-
dou com a empresária a contratação
das suas empresas, mesmo relativa-
mente a serviços que sabia que estas
não prestavam e que, nestes casos,
habitualmente Manuela Couto sub-
contratava outras sociedades, retiran-
do para si uma “comissão” que osci-
lava entre os 25 mil e os 30 mil
euros.
O MP estima que os 18 crimes que
imputa a Manuela Couto renderam à
arguida 235 mil euros, vantagem que
pede que seja declarada perdida a
favor do Estado. A administradora da
W Global Communication e de mais
quatro empresas, todas na área da
assessoria mediática e marketing, é
acusada de oito crimes de participa-
ção económica em negócio, oito de
abuso de poder e dois de falsiÆcação
de documento.
A Melchior Moreira são imputados
estes ilícitos e cerca de dezena e meia
de outros, incluindo um de corrupção
passiva. O ex-presidente do Turismo
está preso preventivamente há mais
de um ano e, apesar de a investigação
ter terminado, vai manter a mais gra-
vosa medida de coacção. “No despa-
cho de acusação o Ministério Público
pronunciou-se a respeito da medida
de coacção aplicada ao arguido em
situação de prisão preventiva, promo-
vendo a manutenção, o que foi conhe-
cido e decidido nesses mesmos ter-
mos pelo juiz de instrução criminal”,
diz a Procuradoria-Geral da Repúbli-
ca numa resposta ao PÚBLICO.
A montagem de stands em feiras de
turismo era um dos serviços contra-
tados a Manuela Couto, mas que esta
não tinha capacidade para executar.
“Em vez de procurarem no mercado
sociedades que prestassem estes ser-
viços, permitindo o funcionamento
das regras da concorrência, contrata-
riam as sociedades da arguida Manue-
la Couto, que, por sua vez, subcontra-
tariam esses serviços a outras socie-
dades (...) recebendo aquela arguida
parte do preço acordado, que ronda-
va os 25 mil a 30 mil euros”, lê-se no
despacho Ænal da Operação Éter, um
documento com mais de 330 páginas.
Por vezes, apesar de os responsáveis
do Turismo acordarem preços e ser-
viços com Manuela Couto, eram as
empresas que prestavam efectiva-
mente os serviços que Æguravam oÆ#
cialmente nos contratos, pagando
estas uma comissão na mesma ordem
de valores à mulher de Joaquim Cou-
to. O ex-presidente da Câmara de
Santo Tirso é um histórico do PS, que
se afastou este ano da vida política na
sequência de uma outra investigação
criminal, conhecida como Operação
Teia, em que é visado. O nome de Joa-
quim Couto apenas surge de forma
acessória no Éter, não lhe sendo
imputado qualquer ilícito. A acusação
descreve de forma pormenorizada os
casos em que Manuela Couto terá
sido beneÆciada, mas não apresenta
qualquer explicação para o alegado
favorecimento por parte do Turismo
do Norte liderado por Melchior Morei-
ra, um antigo deputado do PSD.
A procuradora Carla Fardilha, que
assina o despacho Ænal, sublinha que
“antes mesmo de iniciarem a fase pré-
contratual” do negócio, os responsá-
veis do Turismo “entrariam em con-
tacto” com a empresária ou com as
suas colaboradoras, cabendo a
Manuela Couto indicar “as condições
dos serviços a prestar que, posterior-
ESTELA SILVA
mente, iriam constar do caderno de
encargos e respectivas especiÆcações
técnicas”.
Contactado pelo PÚBLICO, o advo-
gado de Manuela Couto, Nuno Bran-
dão, sublinha que “a seu tempo terá
oportunidade de exercer um contra-
ditório efectivo”, lembrando que a
defesa só foi confrontada com as últi-
mas imputações nas vésperas da acu-
sação. Nuno Brandão realça que,
neste processo, já foi possível
demonstrar que outras imputações
eram infundadas, nomeadamente
suspeitas de corrupção que não cons-
tam da acusação.
Autarca de Viseu investigado
Quem foi constituído arguido neste
caso, mas vai continuar a ser investi-
gado num inquérito autónomo, é o
actual presidente da Câmara de
Viseu, Almeida Henriques. No despa-
cho diz-se que o autarca e outros
membros do município estão indicia-
dos dos crimes de prevaricação, no
âmbito de relações contratuais com
o empresário de Viseu José Agostinho,
acusado neste caso de dois crimes de
recebimento indevido de vantagem.
Contactado pelo PÚBLICO, Almei-
da Henriques remeteu para uma nota
que escreveu no Facebook em que
aÆrma que só se pronunciará sobre
factos em investigação “quando
conhecer o que consta do respectivo
processo”. O antigo secretário de
Estado garante estar disponível para
colaborar com a justiça e pede o res-
peito pelo princípio da presunção de
inocência. com Margarida Gomes
A urgência pediátrica do Hospital
Garcia de Orta (HGO), em Almada,
vai encerrar nos próximos três Æns-
-de-semana. Este modelo, que foi
adoptado para fazer face à falta de
pediatras em número suÆciente
para manter a urgência aberta, vai
estar em vigor até 18 de Novembro,
dia a partir da qual poderá entrar
em funcionamento uma nova orga-
nização. Crianças que precisem de
cuidados urgentes devem dirigir-se
aos hospitais de Santa Maria ou
Dona Estefânia, em Lisboa.
A informação faz parte do comu-
nicado que o conselho de adminis-
tração emitiu ontem, anunciando o
cancelamento da conferência de
imprensa que tinha marcado “devi-
do ao surgimento de novas possibi-
lidades de articulação e reorganiza-
ção do serviço, em que se inclui a
nomeação de um novo coordenador
do serviço de pediatria do HGO”. Os
responsáveis pelo hospital prome-
tem mais informações em breve.
“O serviço de urgência pediátrica
vai encerrar às 9h de 1 de Novem-
bro, reabrindo às 8h30 do dia 4 de
Novembro (segunda-feira)”, diz o
comunicado do hospital, acrescen-
tando que “até ao próximo dia 18 de
Novembro” se mantém em vigor o
modelo de “encerramento aos Æns-
de-semana, tendo início às 20h
de sexta-feira, prolongando-se até
às 8h30 de segunda-feira”. A excep-
ção deste Æm-de-semana é o facto
de hoje ser feriado.
O hospital refere que, durante os
períodos em que a urgência estiver
encerrada, os pais com crianças
doentes podem recorrer aos Cen-
tros de Saúde Rainha Dona Leonor
(Almada) e Amora (Seixal), abertos
entre as 10h e as 17h de sábado e
domingo.
“A unidade de neonatologia e a
urgência interna de pediatria fun-
cionarão regularmente”, acrescen-
ta o hospital.
Urgência
pediátrica
vai fechar
outra vez
Garcia de Orta
Ana Maia
Nos próximos três
fins-de-semana não
haverá atendimento
urgente de crianças
no hospital de Almada
[email protected]
Breves
Ecografias
Animais de companhia
Ministério Público
abre inquérito
à Clínica Ecosado
Veterinários avisam
que registo vai custar
mais de 2,5 euros
O Ministério Público anunciou
que “determinou
oficiosamente [por sua própria
iniciativa] a instauração de um
inquérito” à Clínica Ecosado,
onde foram realizadas as
ecografias à mãe do bebé que
nasceu com malformações
graves no Hospital de Setúbal.
Esta clínica recebeu
credenciais passadas pelo
Serviço Nacional de Saúde
quando não tinha qualquer
convenção com o Estado para
a realização de ecografias
obstétricas, informação
avançada na segunda-feira
passada pela Administração
Regional de Saúde de Lisboa e
Vale do Tejo, que abriu uma
investigação interna por
suspeita de existirem
irregularidades.
Dias depois de o novo Sistema
de Informação de Animais de
Companhia — que obriga
donos de cães, gatos ou
furões a registarem os animais
—, ter entrado em vigor, a
Ordem dos Veterinários alerta
que o custo do registo não se
fica pelos 2,5 euros. O preço
engloba a implantação do
microchip e a consulta
veterinária, cujos preços
variam de clínica para clínica.
“A taxa de 2,5 euros, que saiu
no decreto-lei, é uma taxa que
os médicos veterinários têm
de pagar à base de dados para
poderem registar animais”,
explica o bastonário Jorge Cid.
O PÚBLICO contactou
aleatoriamente cinco clínicas
veterinárias do Porto, Lisboa e
Algarve. O preço mais baixo
era de 25 euros, o mais alto 50
euros, com tudo incluído.