Motociclismo - Edição 254 (2019-02)

(Antfer) #1

74 motociclismo FEVEREIRO 2019


dar por mais de ano. Digo, andar a pé. “Meu irmão
precisou reaprender a andar. Foi uma época difí-
cil para a família. Quando ele mais tarde pôde vol-
tar a andar de moto, muita coisa já tinha aconte-
cido. Aquele momento tinha passado e ele só foi
ter novas oportunidades muito mais tarde.”
A rotina de treinos era intensa: “Acordávamos
muito cedo eu e meu pai, e íamos para Interlagos
treinar antes da escola. Ele conseguia que a gen-
te andasse umas tantas voltas antes dos carros e
motos entrarem na pista. E andávamos e andáva-
mos... eu saia correndo depois do treino e chega-
va suado na escola. Muitas vezes, antes do au-
tódromo fechar, voltávamos lá no fi nal da tarde.
E fomos fazendo amizade com quem cuidava e
íamos fi cando até escurecer. Mais de uma vez o
pai foi para a pista com a Caravan dele atrás de
mim, sozinhos, para iluminar o caminho. E eu ia fi -
cando mais rápido, mais rápido, até que um dia,
me lembro direitinho de ouvir um barulho atrás de
mim e ver – claro – escuro, claro – escuro. Olhei
para trás e ele tinha rodado na pista tentando me
seguir. Já não dava mais para a Caravan.”
As referências: é preciso lembrar que, quan-
do Alex chegou à motovelocidade, gênios como
Walter Tucano Barchi, Edmar Ferreira, Gualtiero
Tognocchi, Milton Benite, Adu Celso, Denisio Ca-
sarini, Jacinto Sarachú, Antônio Jorge Neto (Ne-

COLLECTION Histórias e motocicletas


tinho – apenas um pouco mais velho que Alex)
estavam lá. Muitos eram referência para ele e da
mais alta qualidade.
A cada etapa da evolução de um piloto uma
referência na vida marca aquele momento, aque-
la fase. “Quando fui para a 125 cheguei a dividir a
pista com o Tucano. Denísio, que eu também ad-
mirava muito, não consegui andar junto na épo-
ca. Era um dia de treino e motos de diferentes ca-
tegorias podiam andar juntas. Era no anel externo
de Interlagos. Ele estava de Honda 450 e eu de
Yamaha 125 especial, e elas andavam parecido.
Resolvi ir na rabeta dele e ver o que dava. Tucano
tinha uma pilotagem limpa, mas era muito rápido
e seguro. A CB balançava mais que a minha, mas
ele não se mexia... e como era rápido. Me lembro
de descer a reta oposta atrás dele e pensar: vou
fazer a curva 3 com ele, seja como for! Desci jun-
to e entrei... e então pensei... morri, morri, morri...
não morri! Ufa! E aprendi a fazer aquela curva co-
mo nunca tinha imaginado ser possível antes da-
quele dia. Ah! E bati o recorde da pista para mi-
nha categoria naquela volta, na cola do Tucano.”
À medida que subia de categoria, as coisas da
moto iam fi cando cada vez mais sérias. O menino
era precoce, sempre o mais novo a cada nova eta-
pa, mas era preciso conciliar com os estudos tam-
bém. A disposição para treinar sempre foi plena.

1

2

3

(^1) A Caloi
seguiu com
Barros em seus
primeiros anos
de carreira
(^2) Barros foi
apresentado à
família Ippolito,
da Venemotos,
onde Lavado
era o campeão
mundial^3
Foi a Amparo
Racing de
Pedro Faus
que abriu
defi nitivamente
o mundial para
Barros
“QUANDO PILOTAVA A 125, cheguei a treinar junto com o
Tucano. Achei que ia morrer.”

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