27
em outra parte: no sentido que aqueles sintomas traziam
para eles.
Em outras palavras, é como se os sintomas, que tanto
maltratavam aqueles pacientes, fossem, na verdade, para
eles, uma forma segura, palpável, compreensível (ainda
quando dissessem: não entendo por que tenho isso; o fato
de tê-lo era ele mesmo compreensível), um sintoma que
colocavam, sem saberem eles mesmos que o faziam, no
lugar de algo cujo sentido não podiam compreender, ou
suportar, seja porque era ultrajante, imoral ou simplesmente
ilógico, mas que, no entanto, sentiam. É neste ponto que
entra a revolução introduzida por Freud: nem tudo aquilo
que sentimos está sob nosso controle, nem tudo está
sob o nosso julgamento consciente. Algumas coisas que
sentimos, pensamos, até mesmo fazemos, não obedecem à
nossa lógica normal e mesmo assim impõem-se com toda
a força a nós mesmos. Tal é um sintoma, que nos deixa
incapacitados para bem funcionar, ou uma inibição, que
ainda permite que funcionemos, mas aos tropeções, como
se fôssemos mancos; mancos e até mesmo gagos.
O poder do inconsciente
Para dar alguns exemplos, pensemos simplesmente na
tão comum procrastinação, ou seja, a atitude por meio
da qual deixamos alguma coisa para depois, sempre para
depois, ainda que seja algo absolutamente simples de ser
feito, até o ponto em que se torne um problema, algo difícil
de resolver, uma premência, uma pressão, quando antes
tínhamos tempo de sobra e poderíamos ter-nos livrado da
obrigação com facilidade. Por que fazemos isso? Preguiça,
simplesmente? Há algo de ilógico nisso; sabemos que não
faz sentido e, no entanto, o repetimos frequentemente. Por
quê? Desconfiamos que haja nisso algum sentido. Algum