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omotivo pelo qual tantas, senão todas as patologias
ou perturbações psíquicas tenham sua origem mais
remota numa perturbação da sexualidade; ainda mais:
embora Freud tenha se detido com tanta tenacidade a
essa concepção, negando a qualificação de psicanalista a
quem quer que optasse por partir de outro pressuposto
(e contestando cientificamente a validade desse outro
pressuposto – já que as evidências do pressuposto
freudiano eram clínicas e nenhum outro ponto de
partida pôde validar-se na clínica), resta para nós, em
termos de tratamento e de prática psicanalítica, que o
desejo, como categoria clínica, é ainda mais importante:
se toda energia tem origem sexual, mas essa origem
pode ser desviada em seu destino, sofrendo diversas
mutações, sublimações, satisfações suplementares, resta
como irredutível apenas a categoria do desejo: aquilo
que o sonho realiza não se deixa domar e manifesta-se,
impõe-se a despeito de todo regramento que queiramos
impor a ele. Tanto assim que a própria instância
psíquica responsável pelo regramento, o superego,
também manifesta seus desejos disruptivos, até mesmo
prejudiciais.
Não pudemos, nesta breve abordagem, examinar com
exatidão o caráter desse desejo. Pudemos apenas apontar
que nessa descoberta reside a primeira grande revolução
freudiana, quando desiste de curar traumas e passa a
oferecer escuta àquilo que se manifestava como desejo
insistente e irreprimível, mesmo quando reprimido. De
fato, a cura dos traumas havia sido levada a cabo por
meio da terapêutica da hipnose e da catarse, bastante
bem expressa pelos filmes de Hitchcock e outros que
abordam os primórdios da psicanálise. Entretanto, Freud
também havia presenciado, com bastante frustração, que
os sintomas assim curados retornavam, ou deslocavam-