H
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Mármore
arry estava consciente de que, em certas questões, era de vistas
curtas. Por exemplo, Bogstadveien. Ele não gostava de Bogstadveien. Não
sabia porquê; talvez fosse porque naquela rua, pavimentada a ouro e petróleo,
o Monte Feliz da Felizlândia, ninguém sorria. Harry também não sorria, mas
ele vivia em Bislett, não era pago para sorrir e naquele momento tinha muito
poucos motivos para o fazer. Contudo, isso não significava que Harry, em
comum com grande parte dos noruegueses, não gostasse que lhe sorrissem.
Intimamente, tentou desculpar o rapaz atrás do balcão da loja de
conveniência. Era provável que odiasse o seu trabalho, era provável que
também vivesse em Bislett, e recomeçara a chover.
O rosto pálido com as borbulhas vermelhas e inflamadas lançou um olhar
entediado ao distintivo da polícia.
– Como é que quer que eu saiba há quanto tempo é que aquele contentor
está ali fora?
– Porque é verde e porque lhe tapa metade da vista da Bogstadveien – disse
Harry.
O rapaz resmungou e colocou as mãos sobre as ancas que mal lhe
aguentavam as calças.
– Há uma semana. Mais ou menos. Ei, há uma fila de pessoas atrás de si,
sabia?
– Hm. Eu dei uma espreitadela para o interior. Está quase vazio, para além
de algumas garrafas e jornais. Sabe quem o poderia ter requisitado?
– Não.
– Vejo que tem uma câmara de vigilância por cima do balcão. Parece que é
capaz de ter apanhado o contentor.
– Se o diz.
– Se ainda tiver a gravação da última sexta-feira, gostaria de a ver.
– Ligue amanhã. Tobben estará cá.