Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

Harry pigarreou.
– Posso vê-la?
Sandemann pareceu desiludido, mas fez um gesto amável na direcção de
um dos caixões.


Como sempre, Harry surpreendeu-se como um trabalho profissional podia
melhorar a aparência de um cadáver. Anna parecia estar mesmo em paz.
Tocou-lhe na testa. Era como tocar em mármore.


– O que é o colar? – perguntou Harry.
– Moedas de ouro – disse Sandemann. – Foi o tio que o trouxe.
– E o que é isto? – Harry levantou um maço de papel apertado com um
elástico grosso e castanho. Era um molho de notas de cem kroner.


– Um costume que eles têm – disse Sandemann.
– Quem são esses eles de que está sempre a falar?
– Não sabe? – Os lábios finos e húmidos de Sandemann esboçaram um
sorriso. – Ela era cigana.




Todas as mesas do refeitório do Quartel-general da Polícia estavam
ocupadas por colegas em conversas animadas. Excepto uma. Harry dirigiu-se
a ela.


– Passado algum tempo começa-se a conhecer as pessoas – disse. Beate
olhou para ele com uma expressão de incompreensão, e Harry percebeu que
talvez tivessem mais em comum do que aquilo que ele pensara. Sentou-se e
pousou uma cassete vídeo à sua frente. – Isto foi gravado pela loja de
conveniência do outro lado da rua em frente do banco, no dia do assalto. E
tenho também uma gravação de quinta-feira. Podes ver se encontras alguma
coisa de interessante?


– Queres dizer, se encontro o assaltante? – murmurou Beate com a boca
cheia de pão e pasta de fígado. Harry estudou o seu almoço embalado.


– Bem, podemos ter essa esperança – disse.
– Claro – respondeu ela e os olhos encheram-se-lhe de lágrimas, enquanto
se esforçava por engolir. – Em 1993, ocorreu o assalto ao Kreditkasse, em
Frogner. O assaltante levou sacos de plástico com o logótipo da Shell para
guardar o dinheiro, por isso verificámos a câmara de vigilância da estação de
serviço Shell mais próxima. Descobrimos que ele tinha ali estado a comprar

Free download pdf